"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos


Acordei com os primeiros raios do sol.
A manhã sangrando no horizonte.
Ia perdendo o rubor e se alaranjando..
E, depois, a luz e o azul se confundiam
E pareciam tingir em prece o dia.

Acordei e minha tristeza insone
continuava sólida e lacrimejante...
A lucidez corroendo os olhos.
O amargor atravessando a boca.
E deixando ásperas as palavras.

Havia tanto rancor 
na manhã ainda sangrenta.
Acreditava que uma explosão resolveria tudo.
Reduziria a pó
Afinal, viemos do pó e, 
ao pó, voltaremos .
Biblicamente amor e morte germinam
juntos
como um casal macabro.

Meus passos tímidos
tateavam o caminho
Decifravam mistérios cotidianos
E chegavam até a escada.

A cada degrau, um pedido.
A cada pausa, uma gratidão.
No fundo, ganhei mais do que perdi.
Mas, a minha contabilidade
poética
discrepa dos números
e dimensiona intensidades...

Sentimentos.
Pensamentos.
Espíritos.
Liberdade.

Somos escravos cativos
de uma suposta liberdade.
Nossas amarras e celas invisíveis.
Nossas convicções-gaiolas
não permitem os devaneios,
as hesitações, 
e, o medo de errar, mas acertando.
o medo de acertar, mas errando.

Somos finitos, falíveis e
muitas vezes falsos.

Somos muito menos
do que imaginamos.
Somos muito menor
do que projetamos.
Há mais luz do que tamanho.
Há mais mistério que verdades
na prateleira da vida.

No último degrau,
quando os pedidos finalmente acabaram.
Lembrei daqueles que nada pediram.
Não por si e nem por ninguém.
Aqueles silentes.
Que são cegos pela luz e pela ignorância.
Que são surdos pela balbúrdia. 
Que são mudos,
porque abandonaram as palavras
E na pantomima diária
bordam significados
em seus gestos.
Rebatem carências em tons berrantes
de roupa.

Os que não mais estão aqui.
E seus pedidos perdidos
no espaço sideral.
Plainam.
Na saudade satúrnica
sem anéis e sem dedos...

Quem me dera abrir a reflexão,
como quem abre uma janela 
e se arremessa pleno 
sabendo-se finito e limitado
mas abraçando o infinito e
o inusitado.

Na manhã que começa.
Na brisa e no orvalho
ainda incandescentes
a atear fogo em nossas vaidades e incertezas.

Um único pedido lhe faço:
Ame-se, ame a outrem,
ame a multidão lá fora,
amem as árvores e os animais.
Mesmo os unicelulares.

Seja intransitivo.
Ame sem bumerangue.
A única curva inexorável.
Inescapável.
São dos olhos amados.

Pois o amor é única condenação possível
para a alma de um poeta.
Porque o resto
é ausência e silêncio.
É desperdício
de amitié amoureuse.     
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 01/08/2016
Alterado em 01/08/2016
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