Tenho tanto a lhe dizer.
Tantas frases decifráveis.
Tantas reticências finitas
E uma semântica engasgada
no peito.
Há uma misericórdia
nesse meu sentimento
agráfico...
Seria mais fácil escrever
Sorver no papel
todos os símbolos
como uma esponja,
processando tudo
que tenho a dizer...
Tenho síndrome de Desdêmona
A cada Otelo, morro sufocada.
A cada mouro, vencida estou
rezando o terço inteiro
na certeza
de ser pecadora.
E ir na direção do pecado.
Tenho tanto a lhe dizer.
A lhe explicar.
Quero ser uma nota de rodapé
falante...
Que decifra os enigmas
Que descobre senhas
Que clarifica as trevas
E da luz faz o mistério
de descobrir-se.
Um desnudar-se vestida.
Trajada de cores e significantes.
Perdoe-me pelo vício poético.
Quando chego até você
é como se aproximasse
do infinito,
e no abismo, as palavras fogem,
os pensamentos cristalizam
como se fossem estalactites
no teto de meu espírito.
Pouco a pouco meu corpo
concreto se abstrai...
Se contrai e esboça o gesto.
E desenha a fisionomia.
Meus pensamentos
são perfuro-contundentes
perfuram o espírito e
a tua aura
com vigor.
Desejo semear-te o
afeto...
Mas, agora que estou
bem diante de seus olhos
contemplativos...
E vejo dentro de seus olhos
a minha figura refletida...
a minha exata pequenês.
Não tenho coragem de falar-lhe.
De pronunciar-me.
Rendo-me ao silêncio
como a uma mantra
a ouvir-lhe
sem querer decifrar
sem querer retrucar.
Meus olhos acompanham
suas palavras como em
procissão...
Em meu semblante paralisado
Há palavras fossilizadas.
Há rimas subr-reptícias.
Há lirismo embutido
e disfarçado
Mas é contemporâneo
e fugaz.
É uma gaveta paradoxal
que tudo guarda e dissemina.
No cabaré das ideias
danço em sentido anti-horário
Para o tempo não passar...
E, eu continuar cativa
de sua presença.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 25/07/2016
Alterado em 12/03/2018