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Após Aristóteles, surgiram filósofos de inspiração diferenciada que vieram renovar com a ideia fundamental de Sócrates, que a prática moral tem muito maior importância que a reflexão sobre problemas teóricos.
- “Para que serve a matemática?” disse Aristipo, uma vez que não cogita dos bens nem dos males? E, propuseram que os problemas morais viessem ser resolvidos através de métodos de discussão mais curtos que os utilizados por Aristóteles. A referida evolução é devida a diversas causas, a saber:
1ª) Entre os sucessores imediatos de Aristóteles, não houve um grande metafísico que fosse capaz de manter viva a doutrina do mestre. Para que o peripatetismo[1] encontrasse um novo caminho, seria necessário aguardar o pensamento medieval dos árabes e por São Tomás de Aquino. Teofrasto, um possível sucessor de Aristóteles, possuiu apenas dons de observador, tanto que escreveu dois tratados sobre as plantas, o que fez dele o criador da botânica, e de psicólogo através de sua obra dos “Caracteres” que serviu de modelo para La Bruyére[2];
2ª) A expansão da cultura grega em todo mundo mediterrâneo desde a morte de Alexandre, o Grande, exigiu uma transformação do ensino filosófico. Sendo necessário colocá-lo ao alcance de um maior e diversificado público. Portanto, foi necessário rebaixar o nível de especulação, e antes de tudo, procurar responder às questões práticas;
3ª) Por fim, o declínio das cidades gregas antes conquistadas por Alexandre, que passaram dos reis da Macedônia aos de Pérgamo, da Síria ou do Egito, aguardando a conquista final de Roma o que implicou na decadência do patriotismo e colocou em primeiro plano o problema da condição humana privada, o problema da felicidade e da salvação pessoal.
Eis o motivo pelo qual as grandes filosofias dessa época surgiram antes de tudo, como a arte de bem viver, então o estoicismo respondeu à crise da época por meio de uma filosofia da vontade e do heroísmo; o epicurismo propôs o refúgio para uma vida privada e prudente, bastante egoísta e dedicada à prática de prazeres moderados. E, o ceticismo que também é uma moral convidando-nos a praticar o desligamento sistemático uma vez que as aparências não passam de ilusões.
O estoicismo, epicurismo e ceticismo são, por outro lado, prefigurados como doutrinas dos chamados socráticos menores.Antístenes fundou a escola cínica cujo representante mais famoso foi Diógenes. A exemplo do cão (cyon) que se ri do pudor, Diógenes, o cínico, rejeita as convenções sociais e quase não respeitava as leis dos Estados. Proclamou-se cidadão do mudo, uma vez que a única verdadeira constituição é aquela que rege o universo.
Ensinou que a virtude reside tão-somente na vontade que permite ao homem, como Hércules, triunfar sobre si mesmo e sempre a assegurar sua independência desdenhosa. Diógenes[3], mendigo e vagabundo, com apenas seu tonel como casa, saía com sua lanterna para procurar um homem digno desse nome! Seu alforje e seu bastão exerceu enorme influência sobre o paganismo agonizante. Foi pois o precursor dos estoicos.
O ensino dos cínicos apoiou-se no escândalo e no sarcasmo[4]. Exemplificando: Diógenes convidou um discípulo a segui-lo pela rua, assegurando um arenque. O cínico Crates, conta-se, teria dado um pote de lentilhas a Zenão para que este o carregasse através do bairro da cerâmica. Como Zenão se recusasse, Crates ter-lhe-ia atirado o pode nas pernas.
Aristipo, fundador da escola cirenaica, anunciou os epicuristas. Para o referido filósofo, não existe outra verdade além da impressão imediata, não existe outra felicidade senão o prazer do momento.
Dessa filosofia do prazer, Hegesias, na geração seguinte, retirou desesperadas conclusões: “se a salvação está no prazer do momento, e como nenhum prazer é estável e seguro, só nos resta o suicídio”.
Finalmente, a escola megárica, fundada por Euclides que anunciou o ceticismo, por vezes denominada de escola erística, ou seja, a escola dos disputadores. Diodoro de Cronos foi um dos megáricos mais célebres por ter criado, contra a doutrina aristotélica do possível, um argumento surpreendente, conhecido pelo nome de dominador. “Tudo o que é passado, é objeto de verdade necessária”, disse Diodoro, e neste caso, o possível não tem sentido vez que o passado, como o eterno, está inteiramente realizado.
O presente e o futuro, porém, resultam do passado: a noção aristotélica de “potência” é vazia. Entre o necessário e o impossível não existe o meio termo. Esse paradoxo do tempo de Diodoro, chamado de “rei dos sofistas” foi tão famoso quanto o famoso paradoxo do espaço de Zenão de Eléia.
A história da escola estoica alcança mais de cinco séculos, e os estoicos tardios, da época romana imperial, cujo nome é conhecido pelo grande público – Epicteto, Sêneca, Marco Aurélio que deixaram famosas obras. Mas, só conhecemos os estoicos antigos, os grandes fundadores das doutrina, por meio de fragmentos citados por compiladores (Diógenes, Laércio, Estobeu) ou por críticos tardios (Plutarco, Cícero). Mais recentemente, temos o erudito Hans von Arnim[5] que reuniu todos esses fragmentos gregos e latinos ( Stoicorum veterum fragmenta, Teubner, 1903-1905).
Lembremos que os estoicos antigos são representados por Zenão de Cítio, fundador da doutrina e escola na ocasião denominada da “escola do Pórtico (stoá em grego significa pórtico). Zenão ensinava próximo ao Pórtico Poecile[6] onde o pintor Polignoto [7] quisera, por meio de suas pinturas e ornamentos, purificar o local que tinha sido na época dos Trinta Tiranos, fora testemunha do covarde massacre de mais de mil cidadãos). Cleanto[8] (331-332) de que apenas nos resta um poema de inspiração panteísta, o “Hino a Zeus [9]“.
Os estoicos médios (século II a.C.) representados por Panécio de Atenas (185-112) e Posidônio de Rodes[10] (135-51) que introduziram o estoicismo em Roma.
O estoicismo tardio, da época imperial de Roma teve em Sêneca seu melhor representante e cujos tratados “Da Cólera”, “Da Brevidade da Vida” e cujas “Cartas a Lucília” [11] são célebres. Não se lhe pode contentar o talento literário e perspicácia com que analisou as paixões humanas; sua vida, no entanto, desmente de maneira escandalosa a doutrina estoica, uma vez que antes de tudo ele foi um cortesão pronto a fazer todas as concessões no sentido de conservar os favores de seu poderoso discípulo Nero (consta que Sêneca teria escrito discurso realizado por Nero no Senado romano a fim de justificar o assassinato de sua mãe), o que não, no entanto, o impediu de cair em desgraça e de morrer abrindo as veias por ordem do Nero.
A história mais simpática é a de Epicteto, o escravo-filósofo, inspirador das “Conversações” e do “Manual” redigidos por seu discípulo Arriano de Nicomédia. Foi Epicteto que bem resumiu a doutrina estoica sintetizada na seguinte expressão: “Abstém-te e suporta” (Anechon Kai apechon).
Finalmente, Marco Aurélio (121-180), imperador romano obrigado a consagrar sua vida à guerra com os bárbaros (na fronteira do Danúbio) e à repressão de numerosas revoltas, encontrou consolação heroica na filosofia e nos deixou uma coleção de pensamentos, espécie de diário estoico.
A filosofia estóica compreendeu conhecimentos sobre física, lógica e uma moral. Diógenes Laércio, nos narrou que, para os estoicos, a filosofia é como um campo fértil cujos limites são a lógica, a terra arável a física, o fruto e a moral. Eles a comparavam também a um ovo, cuja casca é a lógica, a clara corresponde a moral e a gema a física.
De fato, é importante compreender que todas as partes da doutrina estoica são estreitamente interligadas e que em, particular, a física e a moral são inseparáveis.
Por que o estoico pregava uma corajosa resignação? Por que se recusava a considerar como um mal a dor que o acabrunha? Precisamente porque tudo o que acontece já está determinado pela razão suprema, porque a natureza é fundamentalmente boa.
Segundo o panteísmo estoico, a natureza representa a vida universal, era o próprio Deus. Nessa acepção, o mundo inteiro se assemelha a um imenso ser vivo cujos órgãos são os diversos indivíduos e cuja alma é Deus, é, portanto, um organismo perfeito e o mal só existe em função do bem.
O homem nada mais é do que um órgão desse imenso organismo e sua alma não é senão uma centelha da alma divina. Portanto, é muito natural que o homem se submeta ao seu destino, que não é mais, como em Sófocles[12], a expressão trágica da punição inexorável que persegue o culpado, o sinal de uma transcendência, mas, ao contrário, um destino-providência, uma harmonia imanente ao universo, expressão da racionalidade do curso do mundo, de sua necessidade, do fogo divino que circula através das coisas. A filosofia estoica é, portanto, um panteísmo naturalista, enfim, um monismo otimista.
Os temas essenciais da lógica e da teoria do conhecimento estão em perfeito acordo com o panteísmo racionalista. Assim é que, diferentemente de Aristóteles, que construiu uma lógica da substância (por exemplo: a proposição “todos os homens são mortais” é, antes de tudo, o juízo de atribuição de um “predicado”, mortais, a um “sujeito”, homens), os estoicos se orientavam no sentido de uma lógica da relação na qual a proposição enunciou uma ligação entre acontecimentos particulares, que a proposição seja condicional (“se é dia, há luz”), causal (“porque é dia, há luz”) ou disjuntiva (“ou há luz ou há sombras”).
Essa lógica que enuncia relações no tempo – exprime, à sua maneira, a intuição fundamental dos estoicos, a ideia de um cosmos harmonioso em que todos os acontecimentos e todos os seres estão ligados, unidos por uma simpatia universal, por um destino racional.
A teoria do conhecimento distingue a simples representação mental (que Zenão, segundo Cícero, simbolizava por meio de sua mão direita bem aberta, dedos estendidos), o assentimento (Zenão dobrava os dedos um pouco), a compreensão – katalepsis – é uma apreensão da ideia (Zenão cerrava o punho) e a ciência, privilégio do sábio (para simbolizá-la, é uma ligação de conhecimentos racionais). Já pelo assentimento, o homem manifesta sua concordância com a natureza, a razão humana reconhece seu parentesco com a razão divina.
Para os estoicos, a felicidade não é uma soma de sensações, mas uma atitude de vontade. O homem é feliz quando existe o que ele quer. Sou feliz quando desejo que as coisas sejam o que são.
Partindo dessas premissas, poder-se-ia justificar a moral da ação revolucionária: “Que a vontade do homem transforme a vida para torná-la mais humana”. Mas essa moral está nos antípodas do espírito estoico.
A moral estoica é toda feita de sabedoria e de aceitação; Aqui a salvação é a aquiescência e a vontade decide querer o mundo tal como é. Assim como atleta aceita o sofrimento no decurso de seu esforço, assim o sábio estoico aceita com um sorriso todas as provações no decurso de seu destino.
É a máxima cunhada por Epicteto: “Suporta e abstém-te” que bem exibe a fundamentação metafísica panteísta e otimista. Viver de acordo com a natureza é, para um ser racional, consentir na racionalidade do destino.
Essa moral estoica, a aceitação heroica da necessidade, é, todavia, uma moral de liberdade triunfante. E a liberdade seria como um cilindro e um cone que se movem a partir de um impulso externo que lhes é independente.
Todavia, uma vez dado o impulso, estes se movem, a representação oferece a explicação de que não depende de mim. Mas, meu assentimento a essa representação depende de mim e exprime minha natureza racional e, é, portanto, um assentimento livre.
Daí, a distinção fundamental, nessa moral, entre as coisas que não dependem de mim – com as quais não devo me preocupar – e as que dependem e sobre as quais eu posso decidir. Minha saúde, minha morte, meus reversos de fortuna não dependem de mim. São indiferentes. Em compensação, meus juízos dependem assim como minhas paixões, uma vez que o objeto de minhas paixões só se valoriza em função do juízo que tenho dele; a importância das coisas provém tão-somente de nossa opinião, e, se dominamos nossas opiniões, seremos senhores do universo.
A moral estoica impressionou o espírito por seu idealismo e por seu rigor; pois o idealismo se trata antes de tudo de uma disposição da vontade, portanto, de uma moral da intenção e, como já se cogitou adequadamente, porque se trata mais de um bem querer do que um querer o bem.
Rigor extremo porque tudo o que moralmente não é “bem” ou “mal” é reputado indiferente, porque o suicídio deve ser preferível à desonra, porque em princípio não existe casuística nem meias medidas; a virtude consiste na retidão do querer.
Uma linha reta que não é inteiramente reta, de modo algum é uma reta; uma ação reta que não é inteiramente reta, é uma ação injusta. Não existe graduação no mal. Quem não é sábio, é louco, e todos os pecados valem o mesmo. Afogamo-nos, diziam os estoicos, tanto com meio palmo de água acima do nariz quanto nas maiores profundezas de um abismo marítimo.
A moral estoica representou considerável papel em todas as épocas, e o humanismo clássico, notadamente, foi por esta muito influenciado e atraiu Montaigne, Pascal e mesmo Descartes que a fez como sua moral provisória[13]. O estoicismo permanece como sendo um dos grandes educadores da filosofia ocidental. O epicurismoEpicuro nasceu em 341 a.C., em Samos, de pai professor e de mãe adivinha e mágica. De 306 a.C., até sua morte, em 270 a.C, viveu em Atenas, onde fundou uma escola. Seus cursos consistiam em conversações amigas à sombra de árvores frutíferas. E seus discípulos admiravam não só o seu saber, mas sua gentileza e sua frugalidade. Dois séculos após sua morte, o poeta latino Lucrécio (99-55) disse: “Deus ille fuit[14]” (V, 7).
É a doutrina epicurista que serve de pano de fundo aos seis livros do “De Natura Rerum” de Lucrécio. Infelizmente da vasta obra de Epicuro só restaram algumas máximas e três cartas (a Heródoto, a Pitocles e a Meneceu) conservadas por Diógenes Laércio. As lições do epicurismo se opõem ao estoicismo, embora com o mesmo fim.
Tornar o homem feliz, dar-lhe um estado purificado de toda angústia, de toda perturbação: a ataraxia[15].
A salvação está subordinada a física de Epicuro, cuja única função é fornecer uma visão do mundo adequada para eliminar a angústia.
Existe nela uma concepção da ciência que podemos opor radicalmente àquela que, vinte e um séculos mais tarde, proposta por Pascal (que se assustava com as descobertas científicas, e chegou a dizer: “o silêncio eterno desses espaços infinitos me apavora”) e só na fé religiosa encontrará o remédio e a paz.
Já para Epicuro, ocorre exatamente o inverso, posto que a religião seja fonte de angústia (os homens tremem de medo quando troveja, veem um relâmpago como presságio ou castigo, ou sinal de Zeus está cheio de cólera; os homens temem a morte e o castigo nos infernos) é a ciência, e somente o conhecimento científico seria capaz de dissipar a angústia religiosa e finalmente dar tranquilidade aos homens.
Epicuro tomou emprestada a física[16] materialista de Demócrito. Os fenômenos naturais se justificam por causas materiais, nenhuma intenção sobrenatural age no mundo. Concluiu que o eclipse do sol não é uma ameaça divina, mas um fenômeno análogo ao que se produz quando, entre um fogo e nós se interpõe algum corpo opaco.
Epicuro limitou-se a rejeitar toda e qualquer explicação sobrenatural, mas diante dos fenômenos ele sempre nos propôs diversas explicações igualmente plausíveis, entre as quais a escolha não é feita. No fundo, Epicuro é mais filósofo do qu cientista, portanto interessou-lhe muito mais o sentido da explicação do que o detalhe da mesma, cujo cuidado de descrição ele deixa para outros. Conforme disse Bergson, “seu objetivo não é instruir os homens, mas tranquilizá-los”.
Se para assegurar a felicidade do homem tanto Epicuro como Lucrécio lutam ardorosamente contra as superstições, eles também são atentos no sentido de aniquilar os espantalhos que poderiam nascer de uma visão estritamente científica das coisas.
Aprendemos que o sistema epicurista como inteiramente construído pela moral, mas a busca do prazer é a finalidade da existência humana. Mas o prazer verdadeiro não é o prazer em movimento, o prazer tumultuoso dos ambiciosos, o autêntico prazer é o prazer do repouso, é a ausência da dir.
Portanto, para Epicuro consistirá antes de tudo numa fuga de todas as ocasiões de dor, de todos os ricos, de todas as aventuras, o que o filósofo condena é o prazer artificial (como o do luxo e da vaidade). Assim, o sábio epicurista contentou-se com o mínimo estrito, perfazendo uma moral paradoxal de cunho austero e ascética porém fundada no culto do prazer.
As doutrinas estóica e epicurista representam dogmatismos rivais, assim o materialismo atomístico segundo Epicuro se opõe ao finalismo providencialista dos estoicos, tanto como a teoria epicurista do clinamen e do livre arbítrio à teoria etoica do destino, já a moral epicurista do prazer prudente à moral estoica da vontade heróica.
O fundador do cetiscismo foi o grego Pirro de Elis que de tão famoso, a palavra pirronismo foi por muito tempo sinônimo de ceticismo, era contemporâneo do estoicismo e do epicurismo. Testemunha de suas contradições, substitui-os por uma interrogação.
O ceticismo é uma propedêutica ao desprendimento, uma vez que todas as opiniões se quivalem, que nossas sensações não são verdadeiras e nem falsas, que as doutrinas dos sábios se contradizem, é importante nada afirmar, desprender-se de tudo completamente, e pelo silêncio (afasia) merecer a ataraxia.
O soberano bem é essa paz da alma que resulta da suspensão de todo juízo. A fonte de nossas perturbações não estará nesses juízos absolutos e temerários que emitimos sobre a maldade ou a bondade? Pratiquemos o epoché[17], a suspensão do juízo e, enfim, teremos a paz e a sabedoria.
Ao duvidar de tudo e de todos, não deveria o ceticismo por uma questão de coerência, igualmente duvidar de sua própria filosofia? É o que o próprio Sexto Empírico reconheceu,e a comparou com um purgativo que desaparece ao mesmo tempo que arrasta os humores do corpo.
No fundo, o ceticismo foi menos arrasador do que realmente poderia crer, principalmente no que se refere a moral, pois se nenhum juízo é dotado de certeza, é mais sábio apenas seguir os costumes mais divulgados, reafirmando-se assim como uma escola de conservatorismo e conformismo.
ReferênciasBEVAN, Edwyn. Stoiciens et sceptiques. Paris: Les Belles-Lettres, 1927 (Collection d'Etudes Anciennes).GOLDSCMIDT, Victor. Le système stoicien et l’idée de temps. Paris: Vrin, 1953.FARRINGTON. Benjamin. A doutrina de Epicuro. Trad. Edmond Jorge. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968. LAÉRCIO, Diógenes. Vie, Doctrines, Sentences des Philosophes illustres. 2. Vols. Paris: Garnier, 1946.PRÉ-SOCRÁTICOS. Fragmentos, doxografia e comentários. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2000.(Coleção Os pensadores).
[1] A escola peripatética foi um círculo filosófico da Grécia Antiga que basicamente segui os ensinamentos de Aristóteles, fora fundada em 336 a.C., e perdurou até o século IV.
Peripatético significa ambulante ou itinerante. Peripatéticos são os que passeiam eram discípulos de Aristóteles, em razão do hábito do filósofo em ensinar ao ar livro, caminhando enquanto lia e dava preleções, por sob os pórticos cobertos do Liceu, também conhecidos como perípatoi, ou sob as árvores que o cercavam.
Teve sempre uma orientação empírica, em oposição à Academia platônica que se notabilizava por ser mais especulativa. O mais famoso membro dessa escola depois de Aristóteles fora Estratão de Lampasaco ou Straton ou Strato.
[2] Jean de La Bruyère (1645-1696) foi um moralista francês. Ficou famoso por uma única obra referente aos "Personagens ou costumes do século" ( Les Caractères ou les Moeurs de siècle).
Este livro, composto de um conjunto de peças curtas de literatura, sendo uma crônica essencial do século XVII. Foi um dos escritores que se destacou pelo estilo da literatura, desenvolvendo um fraseado rítmico em que os efeitos de ruptura são fundamentais. Muitos autores têm seguido o caminho traçado por sua estilística desde Marivaux, de Honoré de Balzac e de Marcel Proust e até mesmo André Gide.
[3] Diógenes de Sínope também conhecido como Diógenes, o Cínico teve detalhes de sua vida conhecidos através de anedotas ( chreia) especialmente as reunidas por Diógenes Laércio em sua obra “Vidas e Opiniões de Filósofos Eminentes”. Fora exilado de sua terra natal e se mudou para Atenas, onde teria se tornado discípulo de Antístenes, antigo pupilo de Sócrates.
Tornou-se mendigo e habitou as ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema e uma virtude; comenta-se que morava num grande barril no lugar de uma casa, e perambulava pelas ruas carregando uma lamparina durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto. Eventualmente se fixou em Corinto, onde continuou a buscar o ideal cínico da autossuficiência, e uma vida que fosse natural e independente das luxúrias da civilização. Acreditava que a virtude era melhor revelada na ação e não em teoria, sua vida consistiu numa campanha incansável para desbancar as instituições e valores sociais do que ele enxergava como sociedade corrupta.
[4] O sarcasmo deriva do grego antigo sarkasmos ou sarkázein e significa literalmente “queimar a carne”, no intuito de escárnio, zombaria ligada à ironia com função cruel, e muitas vezes ferindo a sensibilidade de quem o recebe. Representou uma figura de estilo bastante usada nas artes orais e escritas, tanto na literatura como na oratória.
O sarcasmo e a ironia estão intimamente ligados, e ambos podem ser usados como figuras de estilo na retórica ou na literatura e ambas não correspondem àquilo que supostamente se pretenderia afirmar.
A diferença entre tais conceitos reside no fato de que o sarcasmo é sempre mais picante e mais provocador, enquanto ironia é uma simples contradição voluntária, com intuito menos áspero e feroz.
[5] Hans von Arnim (1859-1931) foi austríaco e filólogo clássico, também se ocupou da filosofia e da exata interpretação sobre o raciocínio lógico sobre os escritos de Platão e Aristóteles, não só para detidamente analisar seu conteúdo mas para prover estudos fundamentais e as linhas cronológicas sobre tais escritos. A filosofia antiga foi tema tratado no ensaio sobre Filosofia europeia da antiguidade que apareceu em 1909, 1913 e 1923, editada em três volumes de estoicos e, ainda está em uso até hoje. Tratou também dos escritos de Xenofonte e contribuiu para a Antiguidade Clássica na Realcyclopedia.
[6] Poecile significa coberto de pinturas.
[7] Polignoto, filho de Aglaophon fora pintor grego ativo entre 475-447 a.C., fora considerado por Teofrasto como criador da pintura. Há uma descrição de uma de suas pinturas expostas em Delfos, no século II d.C., encontra-se na Descrição da Grécia, de Pausânias.
[8] Cleanto foi importante figura no desenvolvimento filosófico do estoicismo, deixando uma marca pessoal nas especulações da escola em matéria de física, dando coerência à física estoica e introduzindo o materialismo no pensamento estoico, o que contribui para a unidade do sistema de pensamento daquela escola filosófica.
[9] "Ó Tu que és o mais glorioso dos imortais, que tens múltiplos nomes, todo-poderoso para sempre, Princípio e Senhor da Natureza, que a tudo governa de acordo com a lei. Eu te saúdo, pois é um direito de todos os mortais o dirigir-se a ti, (...)" (trecho de Hino a Zeus, de Cleanto).
[10] Foi amigo de Pompeu e professor de Cícero. Posidônio ou Poseidonios foi político, astrônomo, geógrafo, historiador e filósofo estoico grego.
Retomou as teorias dos estoicos e as combinou com elementos platônicos e aristotélicos. Dos primeiros apreendeu a ideia de um cosmo vivo e dos segundos a existência de uma alma, com emoções que podem ser positivas.
Observou a estrela Canopus em Alexandria enquanto em Rodes era apenas dividida sobre o horizonte. Estimou a distância entre Alexandria e Rodes em 5.000 estádios e obteve a medida da circunferência terrestre (aproximados quarenta e quatro mil quilômetros).
[11] Tendo se retirado da vida pública em 62 d.C., Sêneca em seus derradeiros textos, escreveu as Epistolae morales dirigidas a Lucílio, também chamadas de Cartas a Lucílio, onde reuniu conselhos estoicos e elementos epicuristas na pregação de uma fraternidade mais universal que mais tarde fora considerada como próxima ao cristianismo.
Todas as Cartas a Lucílio terminaram com a palavra "Vale" que significa Adeus. Nessas cartas, Sêneca dá conselhos de como se tornar um estoico mais devoto, e a forma eclética de se lidar com o dia-a-dia da Roma Antiga. Em 65 d.C., Sêneca fora acusado de ter participado da conspiração de Pisão (que visava derrubar o imperador romano Nero e idealizado pelo senador Caio Calpúrnio Pisão (na qual o assassínio de Nero teria sido planejado). Sem qualquer julgamento fora obrigado a cometer o suicídio.
Na presença de seus amigos, cortou os pulsos com ânimo sereno que tanto defendia em sua filosofia. Tácito relatou a morte de Sêneca e de sua mulher, que também cortou os pulsos. Porém, Nero temeroso com a repercussão negativa dessa dupla morte, mandou que os médicos a tratasse, e então, sobreviveu ao marido por alguns anos.
[12] Sófocles ou Sophoklês foi dramaturgo grego, um dos mais relevantes escritores de tragédia juntamente com Ésquilo e Eurípedes. Suas peças retratavam personagens nobres e da realeza. Filho de rico mercador, conheceu o apogeu da cultura helênica durante o governo de Péricles. Suas primeiras peças teatrais foram escritos depois que as de Ésquilo e antes das de Eurípedes.
Segundo a Suda, uma enciclopédia do século X, escreveu um total de cento e vinte e três peças durante sua vida, mas apenas sete sobreviveram de forma completa. Também trabalhou como ator, e fora ordenado sacerdote por Asclépio, o deus da medicina, e eleito duas vezes para a Junta de Generais onde administrava os negócios civis e militares de Atenas. Dirigiu o departamento do Tesouro, que controlava os fundos da Confederação de Delfos.
Em suas tragédias, apresentou dois tipos de sofrimento: o decorrente do excesso de paixão e o ue é consequência de acontecimento acidental ou destino. Reduziu a importância do coro no teatro grego, relegando-o ao papel de observador do drama que se desenrolava á sua frente.
Aperfeiçoou a cenografia e aumentos o número de elementos do coro de doze para quinze, porém, esse número pode variar de acordo com o poeta que definiu a tragédia.
Também sua concepção teatral fora inovadora e elevou o número de atores de dois para três. Suas peças completas foram: Ájax, Antígona, As Trauínias, Édipo Rei, Electra, Filoctetes, Édipo em colono.
[13] São quatro aspectos importantes que Alexandre postulava sobre da moral provisória:
1) considerada em sua totalidade, permite uma espécie de ampliação da consciência da ordem do mundo;
2) recorre a toda tradição estóica romana, que elaborou toda uma refinada reflexão moral, para desenvolver o conceito de resignação, de autossuficiência sapiencial, de adaptação à ordem do mundo;
3)respeita as autoridades constituídas, seja pela maioria, seja pela tradição. Esta refina o máximo as opiniões, retirando aquelas mais extremadas, visando errar o menos possível quanto à correta escolha. Porém, reconhece as instituições tradicionais, sujeitando completamente ao seu príncipe e acolhendo a religião por ele professada;
4) possui um caráter instrumental. Todo estudo, todo o esforço, todo o conhecimento e toda a consciência sobre a maneira de viver, tem por meta final viver bem, viver sossegado e confortável para continuar a estudar e a filosofar. A partir da moral provisória existirá subsídio para o homem continuar a filosofar e estudar vivendo bem que provirá o sucesso do mesmo da obtenção da moral definitiva.
[14] Deus se foi...(tradução adaptada).
[15] Ataraxia se traduz por se ausência de inquietude, tranquilidade de ânimo. Demócrito utilizou tal termo ao afirmar: "A felicidade é prazer, bem-estar, harmonia, simetria e ataraxia", mas foram os epicuristas, os céticos e os estoicos que puseram ataraxia no centro de seu pensamento filosófico. É a atitude fundamental do comportamento cético, aplicada ao saber o ceticismo de Pirro (que revela um comportamento negativo) perante o valor ontológico do conhecimento.
Diante das limitações da percepção sensível e do próprio conhecimento racional, como cético, questionava-se tanto o objeto quando o sujeito da investigação e, assim buscavam na estrutura do saber humano e as razões de seus limites. Os estoicos procuravam sofregamente essa tranquilidade mental e viam na ataraxia como algo a ser desejado e correspondia ao estado análogo atingido pelo sábio estoico, que era apatheia ou apatia ou ausência da paixão.
[16] Com os atomistas assumiu-se um materialismo puro e rígido. Seria rígido na medida em que os átomos são invioláveis e sem vazio; enquanto que seria puro vez que os átomos são compactos, pesados, contínuos e indivíveis.Tudo porque a realidade é matéria e nada mais do que matéria, constituída apenas por átomos.
[17] Epoché é termo em grego que significa "colocar entre parênteses", é atitude de não aceitar e nem negar uma determinada proposição ou juízo. Opõe-se ao dogmatismo em que se aceita uma proposição obscura. Era característiva dos céticos gregos especialmente pirro. Era a única atitude capaz de levar à imperturbabilidade.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 20/07/2016
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