Ausente primavera
as flores não mais existem
o perfume é apenas imaginário
As sombras das árvore são saudades
de profundas raízes
Ausente primavera
O brilho dos olhos
tornou-se fosco...
a visão tornou-se míope
resta a imaginação
a pintar a cena na memória.
Mesmas palavras
Mesmas expressões
A ênclise fonética
A mesóclise genética
O câncer da sintaxe imperdoável.
Onde estará o sujeito durante a chuva?
Onde estará o objeto enquanto somos títeres?
As cordas tensas da humanidade
A tristeza de ser decadente
De ter pernas fracas
De hesitar diante o fuzilamento dos olhares
Gaguejar enquanto tem nos lábios
a palavra certa.
O sentimento geométrico.
O pressentimento trigonométrico
A chamar a hipotenusa para socorrer
os medos.
Queremos ser iguais.
Mas somos inequações.
Queremos ser aceitos.
Mas rejeitamos reiteradamente.
Negamos obviedades.
Testemunhas da morte dos pássaros.
E o céu, parecerá menos azul.
E as nuvens antes inatingíveis
fazem meus pés tropeçarem
no tapete da realidade.
Ausente primavera.
O outono escreveu sobre as folhas mortas
a saudade do verão
Do sol quente
a derreter paixões
e incendiar almas
Ausente primavera.
Todas as cores que cabiam no arco-íris
estão arquivadas em minha retina.
Estão compactadas,
e a senha para abri-las
é a poesia inescapável
de ver, ver-se e rever...
todas as estações,
na lógica do lirismo
contumaz.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 16/06/2016
Alterado em 16/06/2016