Há uma manhã caindo sobre a cidade
A brisa úmida e espessa
vai caindo...
lentamente.
Os primeiros raios perfuram
as nuvens que
confabulam o dia.
É cedo...
A manhã parida ainda é fresca.
Olhos recém-dormidos
estão em alerta.
Olham e entreolham-se.
Aos passos que descem a ladeira íngrime.
Aos carros ruidosos que passam
e buzinam
Há uma manhã caindo entre nós.
Em silêncio.
Em mantra de promessas e esperanças.
Há uma poesia nascendo
no cotidiano,
a espreita na esquina,
no meio do atropelamento,
imersa em sangue ou orvalho.
O contexto é cenário e
a rima é detalhe.
Há a expressa poesia atávica da vida.
Por entre os paradoxos insolúveis.
Mistérios insondáveis.
Vige uma lógica parnasiana
que dorme entre as relvas.
Ilumina as trevas e
frestas insuspeitas.
Os olhos duvidam
mas não formulam perguntas.
Há uma estética secreta
nas formas existentes
e transeuntes.
Há linhas sinuosas que se misturam
as linhas retas que não
encontram infinito nenhum.
Há um perfume exagerado
que aguça a alergia.
Há a primavera das flores de plástico.
O outono de sentimentos perdidos
E,o inverno silencioso onde caem
as temperaturas e as tristezas.
No existir de cada manhã
há segundos mórbidos.
A aflição de começar o dia.
Que é sempre uma incógnita
diante da certeza lírica da
poesia.
Há uma janela fechada.
Um punho fechado.
Um coração trancado.
Nem as visões, nem os socos
e nem os amores
redimem essa manhã.
Porque é única.
Porque é indivisível.
E totalmente humana.
Envelhece e logo vira noite.
E novamente renasce
eternamente manhã.
Simplesmente porque
é indisfarçável.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 05/03/2016