A primeira coisa que aprendi
foi amarrar os sapatos.
Um laço preciso,
num ritual de atar e prender
o sapato e os passos
no chão do caminho.
A segunda coisa que aprendi
foi memorizar o caminho
da casa até a escola.
Eu ia olhando tudo,
devorando imagens,
lendo placas, signos, sinais e
decifrando sons
como num campeonato.
A terceira coisa que aprendi
foi escolher a carteira.
Colocar a pasta.
E abri-la lentamente...
Posicionando o lápis,
o caderno e o livro.
Numa trigonometria complexa,
arranjada na necessidade de
consultar e escrever.
Ao mesmo tempo.
E, ainda ter um bom campo de visão
do quadro negro.
Naquele tempo era negro mesmo.
Não era verde,
Não era branco
E muito menos digital.
As letras bailavam
na caligrafia perfeita.
Em fonemas redondos
e afinadíssimos.
Tinha uma preocupação absurda
em sempre verificar os laços
dos sapatos.
Não poderia tropeçar.
E simplesmente cair.
E servir de risadas a plateia,
que me observava.
Enquanto os ignorava.
Sigilosamente
Estava preocupada com depois.
Depois da lição.
Depois da aula.
Depois da vida.
Mais tarde e, além...
E, até quando lembrava
de aprender novamente.
Descobri aliviada
que seria uma eterna
aprendiz.
Por isso tornei-me
professora.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 04/02/2016