O que adianta os ventos?
se não me trazem notícias suas
O que adianta as primaveras?
se não me trazem o seu perfume...
O que adianta chegar a noite?
se só lembro de sua luz...
Das manhãs em silêncio e
repletas de orvalho e
rima implícita.
O que adianta o relógio
marcar as horas?
Se enquanto você não chega
tudo está em marasmo absoluto.
Não há minutos, segundos e
nem há ontem...
O tempo é ficção.
Há um moinho a triturar
os murmuros ...
palavras não ditas,
mal ditas
blasfêmias.
As saudades fazem girar as hélices
como um catavento.
Mas, no silêncio você não está.
Procuro nos números inscritos nas ruas
E você não está.
Você mora na minha memória.
E todas as noites te cubro de pálpebras
A sonhar com sua presença e sua voz...
Não há mais gostos...
Não há mais libertação ou agonia.
Há uma enorme lacuna
Como cratera a engolir o dia.
E fazer o sol girar ao contrário.
Para lhe informar a primazia da noite.
A primazia das marés.
A primazia dos ventos.
A primazia das primaveras.
Apesar das tempestades.
Das secas ou da aridez.
O que adianta caminhar?
Se perdi o caminho?
Se os passos e os vestígios fugiram juntos
Para o imaginário apagado
de um sorriso secreto e
uma ironia pública.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 08/01/2016
Alterado em 08/01/2016