Fui ficando de lado.
Nos cantos,
nas arestas agudas e fechadas.
Esquecida diante do tempo.
Naufragada num mar de lágrimas.
Não adiantava sentir misericórdia.
Não adiantava o desejo de saber
o que realmente houve.
O silêncio com seus fonemas mortos
apenas faz soprar o vento da imaginação.
Não consigo entender.
Não consigo aceitar.
Que aos poucos fiquei como parte do cenário.
Corroído pelas ações trágicas.
Plasmado de violência e espectro.
Fui ficando de lado.
De aresta em aresta.
De esquina a outra esquina.
Entre copos e o álcool.
Doía menos acreditar que passaria.
Mas no fundo eu só adiava...
O confabular soturno com a sombra.
A mirabolante fantasia de que tudo
um dia pode dar certo...
As peças não se encaixam
O mosaico não se completa.
Vem o esquecimento.
E toda a história vira uma parábola
indecifrável.
Sem rimas.
Sem cores.
Sem vontade de continuar.
Espero que você encontre flores
ao menos nas exéquias..
Pois suas primaveras murcharam
definitivamente...
e o pólen não se espalhou...
nem pelos pássaros,
nem pelas abelhas...
e o esperado mel
virou o fel fatídico.
O primeiro passo em liberdade
pode ter sido guiado
para o abismo lírico
onde nos perdemos
exatamente para nos
reencontrarmos.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 22/12/2015
Alterado em 22/12/2015