Quando olhei para você.
Só enxerguei aquilo que imaginava.
Só via o que no fundo eu mais queria.
Um ângulo obtuso misturado com silêncio
e hesitação.
Um trampolim mirando o abismo.
Mas sem o salto.
Um meu olhar não lhe enxergou.
Olhava para minha própria esperança.
Olhava para minha expectativa reticente
com a certeza que das sombras
surgiriam as criaturas.
Acreditava que das fendas,
dos momentos
emergiriam almas, significados
e valores.
Como numa mágica estoica.
Todas as dificuldades e vilanias
curamos com química...
Eis que temos
pílulas, hormônios, toxina botulínica...
Podemos ser sempre felizes,
podemos ser sempre viris,
podemos ser para sempre jovens,
e também belos além de estéticos...
Mumificando momentos e expressões
faciais..
Eliminamos males genéticos, históricos e
do tempo.
Infelizmente, tomada de minha cegueira
Particular e feudal.
Eu, suserana de minha ótica confusa.
Eliminei o que havia na realidade.
E construí tão-somente
a relação imaginária.
A intimidade inspiradora
do desnudar das palavras,
o revelar da pantomina.
A revelar segredos óbvios e
paixões fugidias.
Repetimos pecados.
Pecados de nossos pais,
de nossos ancestrais
de nossos passos tortos
que erram o caminho
e se descobrem perdidos...
Num deserto absoluto
de almas e sentimentos.
Peço-lhe perdão pela cegueira.
Mas talvez tal habilidade
Tenha alguma utilidade pois
Talvez me tenha conseguido
fazer-me sobreviver.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 14/10/2015
Alterado em 14/10/2015