"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos


Venho depor aqui
em poesia
Por absoluta falta de coragem
de ter galhardia
ou algum pejo
por matar insetos,
devorar indiferenças
e aniquilar intolerâncias.

Confesso.
Odeio os prepotentes.
Odeio os poderosos.
A nata que boia rindo de meu nojo.

Confesso há muito asco
armazenado dentro de mim.
Empilhado por anos a fio.
Quando vejo injustiças,
testemunho crueldades,
e rebeldias insanas e
insistentes.
Pueris e inválidas.
Cadentes ou decadentes.

Confesso que recuo.
Quando deveria prosseguir.
Confesso que contemplo
Quando deveria apenas olhar.
Que burilo as palavras,
lapido sentimentos e
chuto pedras por puro esporte.
Erro o passo.
Tropeço.
E, o pior. 
Paro no meio do nada
só para sentir o estar.

Confesso que encaro
Quando deveria ser solícita e servil.
Que invado mentes e almas
com a parcimônia de ventanias.
Que planto tempestades em forma
de reticências.
E espalho impropérios...
Precisamos catar os cacos
de dignidade jogados ao chão
nas masmorras, 
nos corredores solenes,
nos paredões de fuzilamento,
nos palácios luxuosos.
Onde poucos comem muito.
Enquanto muitos, comem pouco.

Confesso que sinto culpa
quando calo,
quando sou leniente,
quando sou condescendente,
quando sou cúmplice.
Pela inércia,
pela melancolia.
Por fraqueza cansada
de resistir em prantos.

Mas meu gesto pode não fazer 
diferença alguma
Mas minha palavra pode não alterar
sentença
de vida ou de morte
Mas  meu andar pode não trilhar
caminho.
Mas insisto, em deixar aqui
minha confissão
Mea culpa, mea maxima culpa.

Talvez somente um deus
poderá perdoar-me.
Já que nem consigo fazê-lo.
Sinto culpa.
Pelas feridas que não curei.
Pelas feridas que provoquei.
Paguei sangue com sangue.
Troquei.
Sangue por sangue.
Olho por olho
E todos imersos na cegueira habitual
ouvem impávidos
a confissão
por ser poética e adstringente
da gordura hipócrita do dia.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 29/08/2015
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