Não vai viver só para mim.
Não terá só olhos para minha figura.
Não sentirá apenas minha presença.
Sou uma entre tantas.
Sou um olhar perdido no mar de disciplência.
Sou uma estória num volume massudo.
Perdem-se as folhas,
as anotações.
Aquele símbolo.
A estrela de Davi.
Perde-se o breviário
de São Jorge Guerreiro.
De lança e que certeiro, consegue
matar o dragão.
Quanto a mim.
Nem os bumerangues voltam.
Nem as lembranças no espelho da memória.
Nem as gavetas guardam os segredos.
Pois tudo está posto.
Tudo está exposto.
Tudo declaradamente descansa
lívido, expresso e incondicional.
Não vai viver só para mim.
Nem para as minhas necessidades
Para minhas cismas
Não contemplará minha patologia
Nem recorrerá ao meu corpo
como fuga ou acaso.
Sou mais uma.
Apenas mais uma
Mais uma voz um tanto grave.
Mais uma mente que tanto borrifa ideias
Mas uma boca a mastigar fonemas
e deglutir semânticas.
E no fim do dia...
a despejar as incertezas
da digestão passada.
Meu silêncio não é de monastério.
Nem minha palavra é sagrada.
Digo coisas bonitas e horríveis com
a mesma exata inclinação
de quarenta e cinco graus
do nível do mar,
do nível dos sentimentos tontos,
do nível da alma poética
que lateja no canto das agonias
sem número.
Esse é o endereço para não se encontrar.
É a âncora sem navio.
É o abismo com raízes profundas
no inconsciente
que se perdem nos sentidos
sem vetores
e nos amores
que sempre tive.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 23/08/2015
Alterado em 28/08/2015