Misericórdia
Meu silêncio estrito
reverbera nas paredes do templo.
Faz tremer as vestes dos santos.
Em seus olhos gotejavam piedade.
Contrição.
Clamo por misericórdia.
Meu corpo e minha alma
não suportam a lama e a dor.
Meu corpo está cansado da alma.
E minha alma está cansada do peso
de meu corpo.
Da minha existência encravada em
moléculas, patologias e angústias.
Minha sanidade se alimenta
todos os dias de loucuras.
Pela ousadia, pela falta de medo
da morte ou do esquecimento.
Quando se esquece algo.
Morre-se um pouco.
Silenciosamente.
Sem haver velório,caixão
e a famigerada pá de cal
que contém a última reverência.
A derradeira doação dos vivos.
Morremos todos, em silêncio.
Na constrição discreta de sobreviver.
Rezo de olhar fixo
sinto o cheio da água benta,
da mirra, do incenso...
Percorro todo o altar
E no ápice final da oração.
Concordo incondicionalmente.
Amém.
Assim seja hoje e sempre.
Na certeza que levo para o túmulo
um pouco do infinito...
do flash das retinas írritas
que apenas veem sem enxergar
logo a profundidade das coisas.
Há abismos dormentes em nossas mãos.
Há vaticínios inseridos em nossos inconscientes.
Ler todas essas mensagens
é decifrar a vida
e amadurecer.
Misericórdia!
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 22/08/2015
Alterado em 22/08/2015