Talvez o osso seja a imperfeição da carne
Talvez a carne seja a imperfeição do osso
Mas eles se encaixam, se complementam.
Talvez a visão seja a imperfeição do olho.
Talvez a palavra seja a imperfeição da boca.
Precisamos superar o apenas ver,
para contemplar.
Precisamos superar o apenas falar,
para declamar.
Há frases silenciosas que trafegam no vento.
Há tragédias sub-reptícias que trafegam diante
da negligência atenta.
A dor do outro não é apenas mais uma dor...
É a multiplicação dos males.
É o sofrimento em difusão, efusão,
diluído feito calcário
no pó da estrada.
E as pegadas não são anestésicos.
Talvez o pó seja a imperfeição da pedra.
Talvez a pedra seja a imperfeição da montanha.
Talvez o rio seja a imperfeição do mar.
A veia que saltou para o interior do abismo,
e retornou para desaguar as mágoas
de haver nascido
e se espalhado.
Mas, não posso viver
entre imperfeições e contrastes
Entre o branco e o preto.
Pois existem cinzas, vermelhos, azuis...
Existe o arco-íris
a luz refletida na água...
O leque de opções
concretas e imaginárias.
Existe a dúvida sobre a luz.
Talvez a água seja a imperfeição do fogo.
Talvez o fogo seja a imperfeição da água.
Talvez a terra seja a imperfeição do éter.
Talvez o concreto seja a traição do abstrato.
Há tanta coisa escrita nesse olhar.
Há tanto símbolo nesse corpo.
Há tanto mistério nos cotidianos.
Há tanta ficção nas verdades.
Pena que não existam
tantas verdades quanto versões.
Pena que o desintegrador de essências
Não possa abolir a miséria,
o preconceito,
a indiferença, o desamor e a falsidade.
Talvez... existir seja a imperfeição do ser.
Estamos confinados à um corpo,
à uma sociedade,
à identificações eventuais
para incertezas absolutas.
Talvez a imperfeição seja inimiga do contraste.
Pois no contraste as formas gritam,
as essências saltam
e a poesia faz a ponte.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 05/08/2015
Alterado em 05/08/2015