Não temos mais universo.
Não é único e nem uno.
Existem milhões de galáxias e planetas..
e essa estrela de quinta grandeza
a torrar meus miolos.
E a me deixar tonta, pois com as órbitas
giro em seu torno e para completar o
rodopio,
ainda giro em torno de mim mesma.
O ballet sideral nos permite ter alguma ilusão.
Há milhões de lugares
que poderia eu estar.
Mas, estou aqui.
Exatamente aqui.
Numa geografia incongruente.
Numa inequação enigmática
Não sou aquilo que vejo ou que sinto.
Sou mais, sou além e mais fundo.
É como se brotasse
do fosso mil almas
Mil almas novas e inéditas.
Almas bastardas e sem curriculum
O meu desejo de súbito comparece.
Faz recordar-me a infância.
Faz-me querer a ingenuidade
ao invés da lucidez.
Mas estou apenas de passagem.
Para um rumo incerto e distraído.
Nos mapas vejo os referenciais possíveis.
Nos olhos vejo dores e chagas visíveis.
Mas, nas almas
há um móvel controle,
há um gps satelizado.
A procurar saídas.
A procurar respostas.
Como se a fuga fosse sempre possível.
Não posso fugir de minha imaginação.
Por vezes, releio o que escrevo...
E uma dúvida sincera me assola...
Como pude escrever tal ignomínia?
Como pude expor-me
como carne no açougue?
É que já fui abatida pelos anos.
Pela vida, e pela sensação inquietante
de há ainda existe algo a viver.
Quero possuir as mil almas de Pessoa.
De animais.
De plantas.
Quero ser um inseto e invadir seu
espaço... ler e inocular em seu
pensamento,
uma gota de saudade.
Ou uma gota de remorso.
E depois, como num passe de mágica.
Voltar para esse caminho diário
e nublado
aguardando as chuvas do
inverno previsível.
Voltar ao frio sincero de um corpo parco.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 29/07/2015
Alterado em 29/07/2015