Eu parti.
Olhei aquelas espumas do mar.
Brancas e límpidas
e construi meu esquecimento.
Depois, quando vieram os ventos
Deixei levar os pensamentos.
As lembranças.
Uma a uma.
E, quando já não havia
mais nada de mim.
Eu parti de mim mesma.
Num barco escuro.
Durante uma noite escura e enigmática.
Misturei-me a bruma.
A névoa que embaça a visão.
Que não permite diferenças.
Que não discriminam.
Eu parti.
Meus cacos riscaram o chão do barco.
Mas o casco resistiu.
Não naufraguei.
Não perdi a bússola.
Prossegui.
Fui para uma ilha imaginária.
Aprendi um dialeto exótico.
E me naturalizei quase tão naturalmente,
como foi partir.
As vezes é preciso partir.
E, partir mil vezes a procura do improvável.
Pensei em voltar.
Mas não voltei.
Quis verdadeiramente que tudo fosse diferente.
Mas, minhas forças limitadas
não venceram.
Eu parti.
E você ficou para atrás.
Numa cais estranho
cercado de amarras cortadas
e repleto de ratos passeiando
em busca de abrigo ou comida.
Eu parti.
Irremediavelmente.
O segredo foi olhar para frente
procurando no horizonte.
Um ponto a decifrar.
A louça se quebrou.
Os braços envelheceram.
Os olhos míopes
precisam de óculos.
E as pernas
ainda precisam do caminho.
Partir é preciso.
Lógica não é preciso.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 08/07/2015
Alterado em 08/07/2015