A vida carcomida de traças
a descomer palavras e papiros
a vomitar poesias vivas e
lirismos mortos.
A vida apertada em entrelinhas
Pausada no freio de vírgulas
E ressonante em silêncios indecentes
De desejo reprimido e inconsciente.
A vida sintetizada em DNA.
Em genoma humano e híbrido.
Em cadeia explicativa de fatos e valores.
Em dominó onipresente
a derrubar peças imaginárias.
A vida é mesmo intradutível.
Não posso mais vertê-la
impunemente em linha.
A morte das palavras,
dos gestos e
dos corpos só ritualizam
o velório de saudades.
Sinto tanta saudade
que as vezes dói respirar.
Existir apenas parece uma ofensa.
Insistir e sobreviver corresponde uma
impertinência.
As vezes tenho a nítida impressão
que tudo se esvai por um triz.
É um tropeço.
É um mau pensamento.
Mau passo na estrada torta.
Ou uma hesitação
a beira do abismo.
É um gaguejo na hora do sim.
Eu que as vezes fico em lágrimas.
Seguindo o curso do rio de mágoas.
E, comandando altiva
a nau dos tormentos.
Surpreendo-me com minha face
refletida em águas...
com um leve sorriso de Mona Lisa
enigmático e triste.
expelindo os momentos...
A vida carcomida em mistérios
As traças a vomitar escritos
As entrelinhas esgarçadas
a produzir uma nota dó...
e depois de um dó sustenido...
prolongado e aflito..
Só um suspiro
equilibra a trilha sonora.
A vida entranhada nas unhas.
Em peles... abandonada em ácaros,
e, soterrada em túmulos.
Encerrrando ciclos,
recomeçando outros tantos,
descobre-se subitamente
que a morte pode ser feliz.
pode ser finita infinitamente.
Giganta e pequena ao
mesmo tempo.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 12/04/2015