Se por acaso eu vier a sua porta,
abrirás para me receber?
Se por acaso ainda existirem palavras e sentimentos,
ouvirás?
Ah!
Essa renovável incógnita...
Esse enigma rotineiro
de sóis tímidos pela manhã;
E a pungência exorbitante do meio-dia.
Uma gota de orvalho
em meio a chuva se perde...
Uma chuva em meio oceano,
se perde...
A inundação de seus olhos em meio o trânsito
contínuo de sentimentos...
lava-me a alma... esfolia meu espírito...
carrega e descarrega
como um caleidoscópio
repleto de cores e espelho
algumas são reais,
outras, no entanto,
são apenas ilusão e reflexo.
Distinguir umas das outras...
Saber ao certo,
qual porta irá abrir ou fechar...
Precisar da magia enigmática da sorte,
da coragem ou do atrevimento...
Perdemo-nos.
Em meio aos abismos que nos
arremessamos todos os dias.
Religiosamente.
Paradoxalmente.
Quem me dera, ser afoita.
Quem me dera, ser destemperada.
Descompensada...
Gralha no cio a passear na lagoa.
Quem me dera,
ter pulsando por debaixo de tanto verniz
alguma carne... algum desejo.
ou simplesmente
a incoerência pueril dos amantes...
Se por acaso receber um bilhete meu...
com minha letra arredondada
e palavras ponteagudas...
responderias?
negligenciarias?
Ou apenas se instauraria
silenciosa turbulência
em meio das nuvens de esquecimento.
Quero acreditar que não deixei registros.
Quero acreditar na pia memória seletiva
Que guardou os momentos bons
e sufocou todos momentos ruins...
Hipocrisia.
Ironia e maldade...
Eu a cogitar da sua existência
na minha agenda emocional...
Enquanto vc morre discretamente
por conta de células
que enlouqueceram...
Ironia.
Solidão e domingo nublado.
Promete o tempo a chuva
que apesar de desejada,
definitivamente não vem.
Não irei até à sua porta.
Não escreverei o bilhete
e o acaso fica restrito ao "se"...
Se acaso...
Ler esse poema...
Se alguma coisa lhe ocorrer...
Gema, sofra e registre:
vale a pena viver...
mesmo que o "se"
jamais torne acontecer...
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 12/04/2015
Alterado em 12/04/2015