Aritmética conjugal
Um que fora dois
Dois que não são nenhum.
Duas solidões e um passado lamentável.
Um que fundiu e se tornou o outro.
O outro que abortou a alteridade.
No abismo da convivência
se perdeu em meio
aos hábitos, estilos
e algumas palavras.
Um que fora dois, um dia.
E que acreditou na união.
Na possibilidade de força conjunta.
Na primeira hora do dia,
que já era manhã.
E na última hora do dia,
que era despedida.
Sai e nem olhei para trás.
Não bati a porta.
Não gritei.
Não chorei.
Ficaram mensagens engasgadas.
Silêncios soluçantes.
E uma trégua autoritária
de quem desistiu.
Você é feliz?
Ficou mais feliz com minha partida?
Jamais saberei.
Mas intimamente talvez eu
saiba que sim.
E, com tristeza lhe peço perdão.
Na certeza que jamais perdoará.
Eu lhe tirei a esperança
Eu lhe retirei com pinças
numa operação indelével que
é viver...
Queria viver por escolha,
e não apenas por obrigação.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 02/03/2015