"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos

O educador e as novas tecnologias
Nesse século XXI necessitamos de professores preparados para interagir com uma geração de discentes que é mais atualizada e mais informada, porque os contemporâneos meios de comunicação liderados principalmente pela internet nos permitem acesso instantâneo à informação e os alunos têm maior facilidade para buscar conhecimento por meio da tecnologia colocada à sua disposição.


Os procedimentos didáticos diante desta nova realidade devem privilegiar a construção coletiva de conhecimento, mediada pela tecnologia, onde o professor é partícipe proativo que intermedia e orienta tal construção.


Trata-se de uma inovação pedagógica fundamentada no construtivismo sócio-interacionista que, com a informática, levará o educador a ter muito mais oportunidades de compreender os processos mentais, os conceitos e as estratégias utilizadas pelo aluno e, com esse conhecimento, mediar e contribuir de forma mais efetiva nesse processo de construção do conhecimento.

A missão do educador situa-se em orientar e mediar às situações de aprendizagem para que ocorra plena na comunidade de alunos e ideias, havendo o compartilhamento e a aprendizagem colaborativa para que aconteça a apropriação que vai do plano social ao individual, como preconizou Lev Vygotsky  (psicólogo russo, que viveu entre os anos de 1896 e 1934 e produziu trabalhos sobre o desenvolvimento psicológico e a aprendizagem).

O professor, pesquisando junto com os educandos, problematiza e os desafia através do uso da tecnologia, surgindo assim com maior facilidade a interatividade.


Desta forma na proposta pedagógica contemporânea torna-se cada vez mais residual a utilização do quadro-negro , do giz, do livro-texto e do professor conteudista, enquanto que se majora sensivelmente a aplicação de novas tecnologias, da utilização de sites, eletronic books, revistas eletrônicas e aplicativos de smartphones. E, temos ainda o e-learning, EaD e o TD&E(Treinamento, Desenvolvimento e Educação).

Tais tecnologias se caracterizam pela interatividade, a não –linearidade na aprendizagem, o que temos é verdadeiramente uma teia de conhecimentos, cada vez mais interligados, e a arquitetura de ensino em rede  nutrida pela capacidade de simular eventos e fenômenos do mundo real, social e imaginário.


Não se trata de substituir o livro pelo texto tecnológico, ou pelo hipertexto, ou substituir a fala do docente e os recursos tradicionais da educação pelo fascínio das novas tecnologias. Não se pode esquecer que os mais poderosos e autênticos recursos da aprendizagem continuam sendo o professor, o hipertexto  e o aluno que, conjunta e dialeticamente poderão descobrir novos caminhos para a aquisição do saber.


O que de fato é relevante é a interação, a atuação participativa que é necessária em qualquer tipo de aula com ou sem tecnologia. A interação é importante para que o educando vivencie plenamente a negociação de significados que irá iniciá-lo, na aprendizagem de uma prática social que será permanente na vida do cidadão do próximo milênio: a construção da inteligência coletiva.


Nesse contexto, devemos refletir sobre o papel e competências do professor, neste processo de mediar a interação, utilizando recursos tecnológicos de maneira criativa, na busca da construção coletiva do conhecimento.

Então temos que analisar a mudança de paradigma educacional e da função do professor na relação pedagógica, focalizando as inovações tecnológicas como ferramentas para ampliar a interação.

A educação precisa ser repensada, redimensionada, e buscar novas formas alternativas para aumentar o entusiasmo do professor e incrementar o interesse do aluno.


Mas, qual é o papel da tecnologia nesse processo de mudança? A aplicação inteligente do computador na educação sócio-interacionista, ainda que a realização de um novo paradigma educacional dependa do projeto político-pedagógico da instituição escolar e da maneira como o professor sente a necessidade desta mudança e da forma como e prepara e ambienta a aula.

É muito importante criar um ambiente de ensino- aprendizagem instigante, que proporcione oportunidades, para que seus alunos pesquisem e participem na comunidade, com autonomia.


Lembremos que a interação implica num processo de comunicação não linear (não se apresenta como estímulo-resposta), mas representa uma comunicação em rede (como um rizoma), um processo interativo com alternância de papéis, conexão, heterogeneidade e multiplicidade.

Assim ao usar o computador como um simples quadro-negro um clicar de páginas, não gera motivação e nem explora todo o potencial deste recurso, além de não ser considerado interativo, mas, sim meramente reativo.

A interação é mútua quando implica em negociação e é reativa quando se resume ao estímulo-resposta. O computador, notebook ou ultrabooks ou mesmo um tablet é uma ferramenta que intermedia a ação do professor e o aprender do aluno, é um auxiliar, sempre disponível e muito útil quando bem utilizado.


É a partir de criteriosa escolha de softwares educativos e da adequada utilização da Web (com todas as suas funcionalidades, entre estas, o hipertexto ) que podemos almejar modos de trabalho mais ousados e até mais produtivos.

A simples transmissão de conteúdos realizada pelo computador ou tablet e da web não possibilita espaço para que o aluno crie, aprenda, produza, torne-se cidadão do mundo.

É necessário que o aluno e o ensino que se encontram pelo computador e, por isso, precisam da adequada seleção de softwares que permite essas atividades e que são as linguagens de programação , como Basic, Pascal, LOGO, aos softwares programadores de texto e de construção multimídia.


Em suma, a tecnologia facilita a transmissão da informação, mas o papel do educador continua sendo fundamental na escolha e correta utilização da tecnologia, dos softwares e aplicativos para auxiliar o educando a resolver problemas e realizar tarefas que exijam raciocínio e reflexão.

Diversos são os tipos de aplicativos que o professor pode escolher dependendo dos objetivos da disciplina, conteúdo, características dos educandos e a proposta pedagógica da escola.


Há softwares de informação que só transmitem a informação, o tutorial que ensina os procedimentos, de exercício e prática que propõem exercícios de instrução programada, os jogos educacionais, a simulação, a solução de problemas, os utilitários (que executam tarefas pré-determinadas), software de autoria (programas específicos), os aplicativos (realizam uma tarefa com diversas operações); enfim, é enorme a lista softwares e mídias que são simples exercícios de memória ou que auxiliam na construção contínua do sujeito individual e coletivo, mas, sobretudo colaborativo, solidário e humano.


Planejar a aula com os recursos de multimeios exige preparo do ambiente tecnológico, dos materiais que serão utilizados, dos conhecimentos prévios dos alunos para manusear estes recursos, do domínio da tecnologia por parte do professor, além de seleção e adequação dos recursos à clientela discente e aos objetivos propostos pela disciplina.


Para melhor avaliar quais recursos computacionais devem ser utilizados, sugerem-se alguns critérios de qualidade e avaliação de softwares quanto aos resultados da aprendizagem.


Por exemplo, quanto tempo os alunos precisam aprender os comandos?  Qual tipo de atividade será realizada com uso desse software? É possível o trabalho em grupo? Ou só é possível o trabalho individual?


A interface permite o feedback com estratégias inteligentes e abertas a informações com assistência e decisões dos usuários?


O software proporciona o desenvolvimento da autonomia do aluno, promovendo aprendizagem com graus de dificuldade controlada pelo próprio usuário?


Tais aulas poderão ser presenciais, com auxílio de professor ou de tutores, e a distância. Não analisaremos a educação a distância (EaD) como modalidade de ensino, mas gostaríamos de ressalta a relevância de utilização de recursos virtuais no ensino presencial, quando em alguns momentos ou etapas possa haver interatividade virtual, por meio de correio eletrônico.

É verdade que muitos professores já recebem trabalhos de alunos, virtualmente, avaliam e enviam a avaliação por e-mail ou utilizam outros recursos da internet para pesquisa .  Um início de autonomia e independência já acontece quando os alunos trabalham nos computadores da escola sem a presença do professor e orientados por tutores.


Na sala de aula, o uso o computador aprimorou a qualidade da apresentação de lâminas de retroprojetor, através de um aplicativo PowerPoint, que tanto pode ser utilizado para produzir slides, permitindo uma utilização mais dinâmica, com o uso da multimídia (Datashow, também chamado de canhão).

Mas, a tecnologia na sala de aula não se refere exclusivamente ao computador, mas também a tv, o DVD, o blu-ray também devem ser analisados e planejados para se constituírem num recurso de enriquecimento e interatividade.


A técnica de cine-fórum, relacionando-o ao conteúdo da disciplina, traz novamente a importância do roteiro básico da aula, principalmente enfatizando a adequação do assunto, aos alunos, simplicidade, precisão, facilidade de manuseio, atratividade, validade e pertinência, que também se recomenda a utilização de fichas e guias de avaliação dos filmes para orientar a discussão.

Podemos utilizar a televisão como recurso pedagógico e propor atividades críticas, criativas e variadas a partir da programação da TV e de canais específicos tais como TV Escola, Canal Futura, TVE discutindo os programas com os alunos, a fim de analisar vários relevantes aspectos da aprendizagem.


A reflexão e a sugestão de atividades, para melhor aproveitar os recursos existentes na comunidade, desenvolver o espírito crítico e participativo dos alunos, levando o professor a estimular a curiosidade do aluno para buscar a informação mais relevante, saber lidar com esta informação e, não apenas cegamente consumi-la.


Ao criar o ambiente da aprendizagem, o professor coordena o processo de análise e crítica dos dados apresentados, contextualiza-os, transformando a informação em conhecimento.


As tecnologias de comunicação estão provocando profundas mudanças em nossas vidas, mas os professores não precisam ter medo de serem substituídos pela tecnologia, como também não precisam concorrer com os aparelhos tecnológicos ou com a mídia. Devem unir esforços e utilizar aquilo que de melhor se apresenta como recurso nas escolas e universidades.


O educador precisa se apropriar desta ferramenta tecnológica para se lançar aos novos desafios e reflexões sobre sua prática docente e o processo de construção do conhecimento por parte do aluno.


Cogita-se tanto na utilização de recursos tecnológicos nas instituições educacionais atualmente que parece novidade. No entanto, experiências educativas com o uso da informática nas escolas e universidades brasileiras surgiram na década de setenta, reforçada ainda mais, nos anos oitenta e  sendo mais enfatizada na década de noventa, com o surgimento das novas tecnologias e o forte apelo da mídia eletrônica.

O início do novo milênio trouxe ainda maior ênfase para a utilização das tecnologias na educação, com uma abrangência maior, surgindo a educação a distância, não só com o uso do computador, mas também de outros recursos, como a teleconferência e videoconferência.

Ratifico: O professor não precisa temer e, sim, dominar a tecnologia e aproveitar todo seu potencial em proveito de um melhor ensino e aprendizagem mais criativa, autônoma, colaborativa e interativa.


Muitas pesquisas têm sido realizadas demonstrando a importância da informática nos cursos universitários, e alguns autores sugerem que a informática possibilita o resgate do papel social da cidadania, a partir de rápida e eficiente disseminação da informação e do conhecimento na sociedade.


Assim, com o uso da tecnologia se propõe que o professor deverá ser o elemento fundamental nesta mudança de mentalidade e atitude, inclusive com uma nova visão a respeito do erro não mais como punição, mas como oportunidade para aprender, desenvolver a autonomia e a flexibilização de um sistema rígido, centralizado e controlador.


O educador exercerá trabalho mais intelectual, mais criativo, mais colaborativo e participativo e, está preparado para interagir e dialogar – junto com os seus alunos – com suas realidades fora do mundo da escola.


É esta rede de informações e conexões que torna o ensino não-linear e colabora para a organização da inteligência coletiva distribuída no espaço e no tempo, como nos ensina Lévy .


Cria-se um coletivo inteligente onde nada é fixo, mas não tem desordem, pois são coordenados e constantemente avaliados.

A mudança de paradigma requer exercício muito intenso por parte da escola para repensar a dimensão da distribuição do espaço e do tempo necessários às transformações e por parte do professor, refletindo sobre sua prática, porque ela representa abrir mão da certeza do que se está propondo naquele momento e, acima de tudo, da crença de que o professor deve conhecer tudo como o grande mestre e sábio.


Passamos então para um professor consciente do seu papel de mediador no processo de construção do conhecimento do aluno.  Construção esta que passa necessariamente pela interatividade  com materiais e recursos e colegas em ambientes de aprendizagem disponibilizados pelo professor e pela escola contemporânea.


Ao vivenciarmos a era digital, enfrentamos desafios constantes, oriundos de novas tecnologias cada vez mais inseridas no cotidiano de nossas vidas, onde devemos nos apropriar de conhecimentos que permitam dominar a máquina, e criticamente conhecê-la para saber de suas vantagens e desvantagens, riscos e possibilidades onde podemos ora transformá-la em útil ferramenta  e, em alguns momentos, até dispensá-la.


O professor da escola centrada apenas nos conhecimentos, onde o mestre tem o domínio absoluto da disciplina, e propõe sua visão para construir o conhecimento. Deve ser substituído pelo professor que junto constrói o conhecimento com seus alunos, e nessa posição: questiona, duvida, enfrenta conflitos, contradições, paradoxos e divergências, enriquecendo tais ações pelo apoio na tecnologia.

Mesmo vivendo na era digital, nem todos os alunos possuem conhecimentos tecnológicos prévios necessários para que aconteça essa interatividade entre professor, aluno e tecnologia. Então, outra questão surge para educador, pois é a convivência com as diferenças e procurar promover uma educação inclusiva (inclusão digital).


A adoção de novas tecnologias no ensino não visa um fim em si mesmo, não é um recurso no processo de ensinar e aprender para alcançar os fins educacionais almejados. Vivemos uma era de grandes transformações. O desenvolvimento científico e tecnológico gera, entre outros produtos, um enorme avanço na tecnologia e no conhecimento.


O conhecimento virou tema obrigatório surgindo o que chamamos de sociedade de conhecimento e também a sociedade da informação.

Enquanto que a sociedade da informação  enfatiza a importância da tecnologia educacional para a rápida atualização e socialização de conteúdos, a sociedade do conhecimento se refere à aquisição dos conhecimentos através da interpretação e processamento da informação.


Tais expressões encaminham para diversas análises dos pressupostos da educação. Importa, no momento, pensar qual tipo que educação queremos? Lembremos que a educação importa em formação com informação produzindo conhecimento, competências e habilitações.


Será que estamos preparando nossos discentes para enfrentar papéis funcionais na economia contemporânea? Estamos preparando nossos alunos para enfrentar a competitividade do mercado?


Cada vez mais precisamos de indivíduos com maior autonomia e competências para desempenhar no mercado de trabalho, temos ainda que mudar a nossa maneira de ensinar e de aprender.


Alunos precisam interagir com os conhecimentos e auto-organizar-se. A qualidade da educação só será desejável quando gerar experiências de aprendizagem com criatividade para construir conhecimentos e habilidades para saber acessar as fontes de informação sobre os mais variados assuntos.


E, para tanto, é indispensável um sério e sincero investimento na reciclagem e capacitação dos docentes não só para a utilização de tecnologia, mas no conhecimento de novos métodos didáticos e pedagógicos que possam criar competências para cada vez viabilizar a competência para resolver questões que se apresentam no cotidiano da vida do cidadão, do ser humano e dos papéis sociais que assumimos.


Nenhum recurso, técnica e ferramenta, por si só, é motivador, depende de como a proposta é feita e se está adequada ao conteúdo, aos alunos, aos objetivos, enfim, ao projeto pedagógico da instituição.

Estimular e motivar significa apresentar um desafio a ser enfrentado,  uma situação-problema a resolver, não um obstáculo intransponível. É orientando o aluno nos processos de interação e interiorização , num clima estimulante que mais facilmente ele compreenderá a si e aos outros.


Pela interação, entramos em contato com tudo que nos rodeia, captamos mensagens, signos, revelamo-nos e ampliamos a percepção externa. Mas a compreensão só se completa com a interiorização, com o processo de síntese pessoal, de reelaboração de tudo o que captamos por meio da interação.


Repensar sua prática pedagógica passa pelo processo crescente da informatização das escolas e com a formação de recursos humanos qualificados, passando a ser quesito indispensável para o desenvolvimento.

A proposta é realizar a formação continuada de docentes e de discentes na própria instituição escolar promovendo a reflexão compartilhada com toda a equipe.


Não há planejamento rígido, regras intransigentes, e nem vige a desordem. Há positivamente a necessidade de um bom planejamento que abrigue a tecnologia para que se atinjam os efeitos desejados. E, isto significa que há uma adequada escolha dos recursos e softwares, negociação e estabelecimento de consenso entre os participantes para atender aos interesses de todos, tendo como objetivo prioritário: o aprender.


Assim, o planejamento deve ser participativo e interdisciplinar e promover a reconciliação permanente com o equilíbrio pela interatividade, trazendo o prazer de lecionar em conjunto, com o desejo de aprender.


Referências
FARIA, Eliane Turk. O professor e as novas tecnologias. In: Ser Professor, ENRICONE, Délcia (Org.). 4.ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.
LÉVI, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Loyola, 1999.
GELLER, Marlise. Informática na educação: as opiniões de alunos do curso de pedagogia. Porto Alegre: ago.1995 (Dissertação de Mestrado em Educação, PUCRS).
VALENTE, José. O uso inteligente do computador na educação. Pátio, ano 1, N.1,p. 19-21, Porto Alegre, mai/jul, 1997.

1 - Lev Semenovitch Vygotsky (1896-1934) foi um cientista bielorrusso. Pensador importante em sua área
e época, foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e as condições de vida. Veio a ser descoberto pelos meios acadêmicos ocidentais somente muitos anos após a sua morte, que ocorreu em 1934 devido à tuberculose, aos trinte e sete anos. Vygotsky é o grande fundador da escola soviética de psicologia histórico-cultural. Era necessária, na época, a construção de uma ponte que ligasse a psicologia "natural", mais quantitativa, à psicologia "mental", mais subjetiva. Retornou a Moscou em 1924, envolvido em vários projetos. Apesar da vida curta, foi autor de obra muito importante, junto com Alexander Luria e Alexei Leontiev – responsáveis pela disseminação dos textos de Vygotsky, muitos deles destruídos com a ascensão de Stálin ao Kremlin.
GiseleLeite e Denise Heuseler
Enviado por GiseleLeite em 20/11/2014
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