Homenagem aos ratos
Ratos de rua
Roem destinos.
Publicamente e sem culpa.
Ruminam pelos esgotos
os restos.
Deixados, esquecidos ou
apenas existentes.
Rato cinzento,
rato branco
e rato negro.
Ratos, ratazanas e
camundongos.
Proliferam em silêncio.
Rato-canguru
Rato-caseiro.
Rato-coró
Rato-d'água
Rato-bambu.
Rato-de-paiol
Filho da miséria roída
e recaída pelos cantos...
Rato que rói a fotografia.
Rói o livro de poesia e
meu diário.
Rói os fios e o ferro
que carcomido e desnudo
não transfere mais a energia.
Roído só dá curto-circuito.
Rói as memórias.
Rói as derrotas
Rato que é
rei dos saqueadores
trajado em farrapos,
entronado no covil
dos canalhas.
Rato que rói a rota,
a roupa, os mapas e
as lembranças.
Rói o queijo,
a fresta e o desejo.
Ratus.
Rato que segue sua sina
ensinai-nos a
sobreviver renitentemente
e banir a roedura
do corpo indolente.
Ensinai-nos a viver
com pouco
bem pouco de nós mesmos.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 16/06/2014