Confesso
Por vezes essa culpa imensa
Arrasta-me ao abismo da autopiedade
Por vezes essa bola de ferro
Atada as pernas.
Fazem-me tropeçar e cair.
Mas sou teimosa.
Meus totens não dormem.
Meus deuses não esquecem.
Prossigo.
E se a tristeza não me consola.
Continuo a jornada,
Procurando o melhor.
Melhor dia.
Melhor hora.
Melhor corpo e alma.
Melhor cenário.
Ou indumentária.
Mas para que todos esses atavios...?
Se apenas se
sobrepõem a essência.
De que serve a purpurina
Em meio as trevas?
Como posso ver a luz,
Senão através do contraste?
Preciso mais que apenas olhos
Para enxergar.
Entranhar-se.
No tema, na geografia,
Na genética, na história...
Nas rimas sociais,
E nas métricas capitalistas.
E, mais... na empatia freudiana
De que todos procuram o
objeto do desejo.
Todos tão ávidos e frustrados.
Por vezes o maior desejo do culpado.
É apenas o autoperdão.
É permitir-se ser humano, falho e banal.
É tropeçar com graça.
Na cadência contemporânea desconexa.
É sentir um em meio à multidão.
E ser a multidão dentro de um
... de um só ser.
Pois somos plenos e fragmentados.
Somos partes e o todo.
Simultaneamente.
Paradoxalmente.
E, por vezes somos alijados.
Arrancados.
Transgênicalizados.
Repetimos erros.
Os atávicos, principalmente.
Repetimos kharmas.
Mas jamais repetimos o amor.
Não há amor idêntico.
Ama-se diferente sempre.
Até que um dia...
Amar se torna desnecessário.
Porque simplesmente
morremos.
Queria lhe pedir perdão.
Perdoar e ser perdoada.
Ou talvez esse ritual não seja
mesmo necessário.
Pois a vida segue o seu curso.
Natural ou abruptamente.
Inexoravelmente.
No circo surreal das
paixões e desafetos.
Alheia à culpa ou à confissão
dos viventes.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 23/05/2014
Alterado em 23/05/2014