Desafios pedagógicos & novos perfis
É necessário afirmar que à medida que o tempo passa, a humanidade vem, cada vez mais tomando consciência de seu inacabamento e consequentemente historicidade. A história não está escrita, definida ou acabada.
Estamos diante de uma história aberta a inúmeras possibilidades, em um momento de profunda revisão de nossas narrativas tradicionais que até agora ajudaram a construir a vida em nosso planeta.
Vivenciamos um extraordinário avanço científico, tecnológico, informacional, mas ao mesmo tempo, é crescente a angústia diante do futuro do planeta, seja por conta dos conflitos sociais, políticos, econômicos, culturais e étnicos, seja por conta de nossa agressiva relação com a Terra, compreendida como ser vivo.
Os teóricos afirmam que a modernidade, é um período sobre o qual se ergueu nosso atual estágio de desenvolvimento científico e tecnológico, para alguns estamos vivendo, mormente, o chamam de pós-modernidade , um tempo onde já não há tanta confiança na razão científica e nas metanarrativas produzidas pela cultura moderna, tendo em vista a transformação do mundo.
Passamos por ondas revolucionárias que emergiram de dentro do capitalismo, e lhe dão novo alento, abrindo-lhe novas perspectivas: é a Revolução Eletrônica, seguida pela Revolução das Comunicações, seguida pela Revolução dos Novos Materiais e, por fim, pela Revolução Biotecnológica.
O crescente impacto que essa evolução econômica e tecnocientífica exercem sobre as sociedades, famílias e, ainda os efeitos colaterais que esta suscita em todas as áreas de conhecimento podem ser sentidos, percebidos, mas, ainda estamos distantes de poder adequadamente analisá-los e avaliá-los.
É um tempo pós-humano, tempo no qual a revolução natural do homem parece que teve fim. Vivenciamos atualmente a revolução artificial do homem, que deriva do impacto das tecnologias de informação sobre a natureza humana.
Estamos repensando a compreensão que temos de nós mesmos como seres humanos, o tipo de sociedade e mundo que estamos construindo, e ainda sobre o mundo que queremos construir.
É óbvia a relação deste problema com a educação, seja a formal ou a informal, na qual estão imbuídos professores e as gerações, desde as mais antigas até as mais novas, que, se encontrando no processo educativo participam ativamente da gestação do mundo presente e futuro.
São muitos os desafios pedagógicos que estão diante dos professores, seja em sua prática e formação, seja diante de sua constante reciclagem, diante das novas gerações, e sua participação na construção presente e futura de nossa humanidade.
Vivenciamos contrastes paradoxais, pois, se uma parte do mundo tem hipertecnologia que nos permite até cogitar em pós-humanidade, outra parte está numa miséria abissal que não é possível cogitar nem mesmo em humanidade.
No Brasil, vivenciamos estas duas realidades extremadas, e os professores precisam desenvolver a capacidade de trabalhar com estas situações, tanto no sentido de superar os fatores de desigualdade e desumanização como no sentido de viver, com desembaraço e competência, as realidades de um novo mundo que está sendo criado.
Muitos dos atuais professores nasceram num tempo em que a televisão era o principal meio de comunicação, e que como tal provocou muitas mudanças em vários aspectos da vida em sociedade.
Esses mesmos professores convivem hoje com crianças e jovens que estão (quase todo o tempo) numa realidade tecnológica e virtual muito mais ágil e a avançada do que aquela que eles experimentaram em sua trajetória: internet, celulares, telecomputadores, ipods, videogames, com gráficos em 3D, games jogados pela internet, redes sociais e mensagens de torpedo.
Estamos repensando a compreensão que temos de nós mesmos como seres humanos, o tipo de sociedade e mundo que estamos construindo, e ainda sobreo mundo que queremos construir. É óbvia a relação deste problema com a educação, seja a formal ou a informal, na qual estão imbuídos professores e as gerações, desde as mais antigas até as mais novas, que, se encontrando no processo educativo participam ativamente da gestação do mundo presente e futuro.
São muitos os desafios pedagógicos que estão diante dos professores, seja em sua prática e formação, seja diante de sua constante reciclagem, diante das novas gerações, e sua participação na construção presente e futura de nossa humanidade.
Vivenciamos contrastes paradoxais, pois, se uma parte do mundo tem hipertecnologia que nos permite até cogitar em pós-humanidade, outra parte está numa miséria abissal que não é possível cogitar nem mesmo em humanidade.
No processo de reinventar o trabalho docente diante das novas realidades humanas e tecnológicas, torna-se interessante identificarmos algumas das características predominantes das diferentes gerações que habitam as salas de aula, da educação básica ao ensino superior, e também os espaços de educação informal.
Resta claro que a proposição das características das diferentes gerações tem mero efeito aproximativo. E, têm sido muito utilizada pelos estudiosos das áreas de administração, negócios, liderança e pedagogia, na perspectiva de compreender com quem trabalham e para quem vendem.
Não se está levando em consideração, por exemplo, fatores como classe social e as peculiaridades individuais de personalidade humana. Estes, e outros, são sem dúvida alguma, fatores que interferem na composição do perfil do indivíduo em relação aos demais indivíduos de sua geração.
A intenção é pois mostrar tendências, mas não assumir que a referida caracterização seja uma verdade estanque, acabada e generalizada. Também em relação aos períodos temporais das diferentes gerações, há divergências embora pequenas entre os diversos estudiosos. Com relação às datas estas também são aproximativas.
A denominada geração baby boomers é constituída por pessoas que nasceram entre 1946-1964. Nascidos logo após o fim da Segunda Guerra Mundial (presenciaram o primeiro homem na lua, a luta dos direitos das mulheres e o ativismo político pautado na paz & amor) e tinham na reconstrução do mundo e no trabalho as duas de suas principais referências de vida. O emprego, sua manutenção e sua aposentadoria eram os principais marcos que definiam a construção de sua vida pessoal.
Esta geração viu o aparecimento da televisão e foi marcada pela aceleração das transformações culturais com o aperfeiçoamento técnico dos meios de comunicação de massa. Os indivíduos da geração baby boomers atualmente contam entre 46 a 64 anos de idade.
A geração X nasceu entre 1965 a 1978 e foi marcada, de um lado, pelos movimentos hippies e pela revolução sexual, e de outro, pela experiência do desenvolvimentismo, das ditaduras, da crise econômica e energética e seu consequente desemprego.
Presenciaram a consolidação do capitalismo e a ocorrência de grandes demissões. Há o começo da informatização (e com isso, os mais velhos deixam de ser portadores de conhecimento ou guardiães da sabedoria).
Crescendo em culturas já completamente contaminadas pelos meios de massa, não conseguiu libertar-se da noção de trabalho/emprego que herdou dos pais, mas foi profundamente influenciado pelas lutas por liberdade, reconhecimento das minorias, paz e independência do dinheiro, o que, sem dúvida, gerou tensões e angústias permanentes. Os indivíduos dessa geração têm hoje entre 32 a 45 anos de idade.
A geração Y (de yuppies ) nasceu entre 1979 a 1992 e foi profundamente marcada pela revolução tecnológica, pela globalização, em todos os seus aspectos, também pelas questões ecológicas. A geração Y é também chamada de Echo Boomers pois muitos correspondem aos ecos de baby boomers, e a taxa de natalidade também aumentou em 1980 e 1990.
Nascida num tempo em que o consumo se expandiu e foi facilitado pela tecnologia, é composta de indivíduos movidos pela preocupação com o sucesso profissional, nem sempre no mesmo emprego ou empresa, de tal forma que este lhes garanta a possibilidade de consumir o que o mundo da indústria tem a oferecer. São pessoas que têm hoje entre 18 a 31 anos.
O quadro adiante propicia a melhor compreensão dessas diferentes gerações no interior de cada estabelecimento, e ajuda também a visualizar os marcos definidores de cada uma das três gerações.
Geração Baby boomers
idealistas
Geração X
cívicos
Geração Y
silenciosos
Ano de nascimento
1946-1964
1965-1978
1979-1992
Marcos históricos
Fim da Segunda Grande Guerra Mundial
Primeiro homem na lua.
Direitos das mulheres. Mov. hippies e revolução sexual Rev. Tecnológica.
Echo Boomers
Mídia: ódio, medo ganância
11/setembro, assassinatos,
assaltos,
terrorismo, violação de ética.
Mundo instável/ futuro incerto.
Crescimento das telecomunicações
Principais ideais
Reconstruir o mundo Lutar pela paz, liberdade e anarquismo. Globalização,
multicultura,
diversidade
O trabalho é...
A principal razão da vida.
O que paga as contas.
Satisfação do desejo de consumismo.
Média de tempo
Nas empresas
30 a 40 anos
10 a 15 anos.
8 anos
A geração Z (de zapear) é composta de pessoas que nasceram a partir de 1993 e que estão, portanto na faixa etária de zero a dezessete anos. Os indivíduos a esta pertencentes mais do que a anterior, são aqueles do mundo virtual; internet, videogames, baixar filmes e músicas da internet, redes sociais e, etc.
A tendência é que estejam com o fone de ouvido a todo instante, ao mesmo tempo em que estão realizando outras atividades e assistindo a TV.
Por isso, alguns chamam esta geração de silenciosa. São rápidos e ágeis assim como os computadores e notebooks (ultrabooks), têm dificuldades com as estruturas escolares tradicionais, e, muitas vezes, com relacionamentos interpessoais, uma vez que a comunicação verbal é dificultada pelas tecnologias presentes a todo o momento. Ainda não é claro como vão lidar com emprego e com as especializações que até agora vêm se mantendo na sociedade
Acreditamos que as novas gerações, de modo especial, as gerações Y e Z, estão sofrendo uma ruptura brusca nas formas de percepção do mundo .
Essa observação é fruto de nossa empiria, baseada na experiência como professores, no contato diário com jovens que acabaram de chegar do ensino médio, mas é também resultado de nossas leituras sobre o avanço tecnológico.
A construção da personalidade e dos valores está acontecendo por caminhos muito diversos daqueles tradicionais: família, igreja, escola, empresa, e TV.
E a configuração de todos os processos perceptivos é muito mais imagética e hipertextual além de hipermidiática. A tradição oral permanece, mas totalmente contaminada por estruturas definidas pelos processos de globalização e pelas dinâmicas de consumo.
A língua escrita está sendo totalmente reconfigurada, e existe uma resistência grande à forma tradicional de leitura: o livro com começo, meio e fim, sem a sedução da imagem, da interação, da participação efetiva, vem se tornando obsoleto para essas novas gerações.
É muito comum receber alunos egressos do ensino médio que afirmam, sem nenhum pudor, nunca terem lido um livro. Isso não significa que sejam “burros”, preguiçosos ou menos inteligentes que os indivíduos das gerações anteriores, nas quais a cultura era baseada na leitura e na escrita tradicionais.
Alguns desses alunos são incrivelmente inteligentes e criativos e, apesar de grande dificuldade ou quase incapacidade, para se expressarem em linguagem escrita, podem criar e inventar coisas fabulosas e úteis utilizando música, imagem, desenho, enfim, a chamada linguagem multimídia.
No entanto, esses jovens são igualmente vítimas de seu temo, pois vivenciam o momento da ruptura, visto que aqueles que são seus mestres e professores ainda estão atrelados a outros paradigmas no que se refere aos processos de ensinar e aprender.
Muitos desses professores estão infelizmente despreparados para lidar com as questões acima apontadas, acomodados a velhos modelos e resistentes a uma compreensão mais ampla das formas de leitura e apreensão do mundo pelas novas gerações.
Trata-se de um problema complexo para esses jovens, pois seu mundo entra em choque frontal com o mundo de seus pais e educadores; o choque de formas diferentes de apreensão, percepção e, consequentemente, também de construção do conhecimento.
A geração baby boomers sofreu a forte influência da TV em seu processo educacional e de percepção do mundo. A imagem passou a ter importância maior na construção das estruturas do pensamento, a linearidade começou a ser rompida com o surgimento do controle remoto, que permitia o zapping, algo realmente agradável para nossa mente que não é linear, mas pensa por saltos e conexões, vai e volta e, ao mesmo tempo, divaga.
Contudo, essa geração ainda conseguiu manter sua disciplina de construção de conhecimento amarrada às leituras tradicionais de livros e artigos acadêmicos.
A geração X talvez seja aquela que hoje, consiga lidar melhor com as características dominantes no processo de construção do pensamento nos moldes como desenvolvido pela geração baby boomers, ao mesmo tempo em que domina os movimentos básicos da tecnologia e dos ambientes virtuais nos quais navegam, livremente, as gerações Y e Z, processo que tem influência no modo como assimilam informações e constroem conhecimento, conhecimento este que, por sua vez, vai favorecendo a criação de novas formas de narrativas.
Com o surgimento da rede internet, essa ruptura sedutora, iniciada lá com a TV, consolidou-se, e a linearidade textual pode vir a tornar-se um mito.
As crianças e jovens Y e Z navegam livremente, seduzidas pela estrutura da internet, que é uma grande metáfora de nosso pensamento fluido e não-linear. Por isso é tão doloroso para muitos jovens, hoje a leitura de um livro. Esta é limitada, engessada, não faz hiperlinks diretos.
Por exemplo, imaginemos que um jovem está lendo o capítulo de um livro no qual em um parágrafo lê sobre o suicídio de baleias, o jovem quer saber mais sobre o tema, porém o livre não lhe dá a possibilidade de um link direto. A internet sim.
Em menos de um minuto, não só saberá mais sobre o tema, como poderá ver as imagens e daí poderá dar novos saltos. E, note-se, muitas vezes não retornando ao tema inicial de sua pesquisa ou navegação.
Além dessa questão central dos processos de percepção mais sinestésicos (ou hipermidiáticos) que rompem com a tradição de educar baseado no texto e na oralidade - o grande choque de gerações, os jovens, e também as crianças, sofrem ainda com outros problemas.
O mais gritante é o da aceleração dos processos tecnológicos em todos os campos e, a dificuldade para selecionar a informação útil, adequada e significativa, num oceano ilimitado de fluxos informacionais diária.
Esse caldo cultura que quase nos afoga, escorre por todos os flancos, diariamente, impondo às mentes em formação, o problema grave de selecionar, saber separar "o joio do trigo", não sentir-se perdido dentro dessa teia infinita de informações, e transformá-las em conhecimento pertinente para a formação de seu caráter e identidade.
Esse problema vem atrelado a outro: o da sedução constante dos entretenimentos vazios que infestam todas as mídias. A diversão insossa, pura e crua, marcada pela repetição, como por exemplo, nos games, em que as ações vão se repetindo, à exaustão, até alcançar-se o sucesso proposto. Esse tipo de diversão passou a ser uma das prerrogativas diárias de muitos desses jovens.
Seu interesse está em vender produtos e serviços. Portanto, a internet, os games de computador, a televisão os celulares, os smartphones, os ipods, os ipads e tablets são ferramentas tecnológicas predominantemente comprometidas com a coisificação das pessoas no mundo.
A gravidade disso é acentuada porque o mundo do capital, é estruturado sobre a dinâmica do consumo, não tem a mínima preocupação em formar o caráter na perspectiva da criticidade, da generosidade, da solidariedade, da corresponsabilidade pela vida.
Nessa teia nobre de conhecimento com tantos caminhos soberbos, o mais sedutor para as massas é o caminho do ter, da coisificação das pessoas, dos relacionamentos, dos animais e da vida em geral.
Quando o jovem participa de comunidades na internet está criando laços com outras pessoas, por afinidade. Isso tem um lado maravilhoso, pois ele pode conhecer pessoas que possuem os mesmos gostos em qualquer lugar do globo.
Entretanto, existe outro lado na questão: o perigo de avaliar e julgar os outros seres humanos a partir apenas dessa afinidade que os une.
Isso preocupa, pois os seres humanos são criaturas muito mais complexas que as facetas que consegue apresentar num site que favorece a interação e os relacionamentos.
Analisar o outro apenas por um interesse é também coisificar o outro.
Eleger uma faceta como o todo, isso contribui para que as relações humanas não tenham solidez e produza a expectativa que temos diante de objetos utilitários: o celular fica obsoleto depois de um mês, e não atende mais às exigências de novidade, não me satisfaz de uma maneira, em um dos aspectos, deve ser descartado.
Ao longo do tempo, isso pode acelerar os processos de intolerância e, no limite, de agressividade e exclusão. A mudança de percepção do mundo, baseada na hipertextualidade, está reconfigurando a estrutura cerebral.
A memória perderá alguns de seus importantes papéis e a possibilidade de uma consciência planetária emergente parece verossímil.
Mas, essa mudança de percepção não significa uma mudança na formação do caráter; não significa que teremos uma humanidade melhor, mais solidária e doce.
Tudo dependerá de como os jovens resolverão esta grande e questão: deixar o caráter ser assassinado pela diversão vazia, ou busca nessa estrutura rizomática, maravilhosa, os caminhos para uma verdadeira revolução interior que favoreça o autoconhecimento, generosidade, solidariedade e cuidado com o planeta Terra (ou Gaia) e seus viventes.
Educar é atividade do dia a dia. É instrução, escola, boas maneiras, comportamento, obediência, silêncio e assepsia. É tudo isso e seu reverso. Educar é a maneira mais abrangente que temos para designar as relações sociais. Podemos escolher entre educar para a liberdade ou educar com autoridade.
Educar para a liberdade não é uma utopia. É uma realidade possível que acontece uma vez que se deseje liberdade. Pais, professores, estudiosos e todos os educadores podem desejá-lo em nome da liberdade. Só assim se pode conter a violência, por valorizar o humano e a ajuda mútua.
Infelizmente, não se muda a sociedade como bloco, de uma só vez. A mudança é complexa e passa por nossas características individuais e coletivas. As transformações começam necessariamente com os indivíduos.
Expandem-se e daí, aos pequenos e grandes grupos até chegarem ao conjunto maior da sociedade. A escola e os educadores podem e devem ajudar as crianças e jovens na construção desse movimento conforme sugere Leonardo Boff.
Precisamos sim de revoluções, para realizarmos as transformações necessárias. Mas os caminhos para estas transformações são hoje diferentes. Não bastam as transformações estruturais; precisamos transformar também as subjetividades, pessoais e coletivas.
Acreditamos nas revoluções moleculares. Como as moléculas, a menor porção de matéria viva, que garantem a sua vida pela relação e articulação com outras moléculas e com o meio ambiente, de forma semelhante, as revoluções devem começar nos grupos e nas comunidades interessadas em transformações.
Nos grupos transformam-se as pessoas, suas práticas e suas relações com a sociedade circundante. A partir daí, podemos começar a mudar espaço mais amplo da sociedade.
Os novos processos educativos exigem, assim que cada geração tome consciência de seu próprio processo de desenvolvimento e do ponto em que chegou ao contexto da evolução societária.
A partir daí, poderá detectar qualidades e lacunas que precisam ser supridas, tendo por meta não apenas a realização pessoal, mas a construção de uma sociedade com capacidade de justiça para todos, e, ainda com a capacidade manter e desenvolver o presente e o futuro da vida do planeta, que, neste momento, está profundamente ameaçada;
O fim catastrófico parece-nos algo muito distante de nossa realidade, e muitos nem chegam, no cotidiano, a fazer relações entre nosso modus vivendi e o futuro do planeta. O fim desastroso parece-nos fantasia de ficção científica e não uma possibilidade concreta.
No entanto, obras como "A vingança de Gaia” (2006) e "Gaia: Alerta Final” (2010), escritas pelo notório PhD em Medicina, o inglês James Lovelock , os alertam para o fato de que talvez não consigamos mais recuperar os quantos já fizeram perder sobre nosso planeta.
Devemos ter sempre em mente que é arrogância achar que sabemos como salvar a Terra: nosso planeta cuida de si próprio. Tudo que podemos fazer é tentar nos salvar.
É curial questionar: Quais as opções que as novas gerações possuem diante de si, quando se pensa no futuro sobre o planeta.
Não temos ainda o distanciamento necessário para entendermos a profunda ruptura que estamos experimentando em todos os aspectos: culturais, sociais, políticos, econômicos, psicológicos, perceptivos e cognitivos. Muito provavelmente a espécie humana ou se autoexterminará ou então, irá conseguir um avanço em grande quantidade e qualidade de vida individual e coletiva.
Alguns pesquisadores radicais da tecnociência são ainda mais otimistas e iconoclastas ao vislumbrarem a possibilidade de uma imortalidade hipertecnológica Na verdade, no futuro, quer dizer, ao final do século XXI, não existirá mortalidade. Não no sentido ao qual estamos acostumados.
Quando atravessarmos a linha para nos instanciarmos em nossa tecnologia computacional, nossa identidade será baseada e preservada em nosso arquivo de mente evolutiva. Nós seremos o software e não o hardware.
As opões das novas gerações são muitas, mas podem se resumidas em duas grandes linhas: uma que atende aos desejos do ego e contribuirá para a falência da espécie humana, e outra, que compreende a interconexão entre todas as criaturas vivas e a interdependência delas.
Essa segunda é o amor irrestrito pela vida, e, se prevalecer, poderá resultar numa autêntica evolução para uma vida harmônica vivida com consciência cósmica, isto é, a consciência de que a vida se espalha para além deste planeta, pálido ponto azul no grande espaço, e que pede sempre o cuidado amoroso para com qualquer tipo de vida.
Se as novas gerações optarem pelo consumo desenfreado, pela diversão desencanada que sempre envolve o consumo, pelo seu ego, pelo seu bem-estar e poder, em lugar de escolher esse caminho do amor e do compartilhar, será o fim.
Para Lovelock ele virá provavelmente nos próximos cem anos, pois as necessidades criadas pela obsolescência acelerada das tecnologias e o consumo irão esgotar o planeta.
Assim como devemos através da educação promover a cidadanização do aluno, oferecendo-lhe a visão crítica da realidade histórica do seu país, facilitar acesso e conhecimento de direitos e deveres.
Indicação de alguns temas que devem ser considerados nas escolas, com as gerações Y e Z, com cuidado, atenção e criatividade:
Novas narrativas.
As narrativas modernas e racionalistas, de caráter predatório e cientificista se esgotaram.
Professores e alunos precisam criar novas narrativas que considerem nossa complexidade, nossa subjetividade, nossas capacidades imaginativa e intuitiva e nossa necessidade de sentido.
Alguns questionamentos são inescapáveis:
Qual história que queremos fazer?
Qual presente e futuro que queremos construir?
Quais novas narrativas nos ajudarão a construí-los?
Cultura visual - somos seres imagéticos. Vivemos mergulhados em visualidades agora muito facilitadas por tantos recursos tecnológicos.
Avaliar qual atenção a escola tem dado no sentido de fazer com que os alunos não sejam apenas receptores de imagens, mas também críticos construtores e intérpretes delas, capazes de pensar suas funções sociais e suas relações de poder para além da fruição de prazer que elas proporcionam.
É preciso que os alunos aprendam a construir novas narrativas visuais que sejam estímulos à construção de novas realidades, quiçá, mais fraternas, tolerantes e solidárias.
Indicação de alguns temas que devem ser considerados nas escolas, com as gerações Y e Z, com cuidado, atenção e criatividade:
Autoconhecimento. Stanislav Grof , em sua obra seminal “Além do Cérebro” (1987) lembra que as mudanças profundas a serem efetuadas na vida em sociedade no planeta exigirão que o processo de autoconhecimento esteja junto de qualquer atividade que se realize.
Autoconhecimento proporciona consciência do próprio caminho, em termos de avanços e limites, assim como favorece o processo de partilha e comunhão entre diferentes.
Afinal, como recuperar a motivação no ambiente escolar?
A arte é, por si mesma, um caminho de autoconhecimento e de autoconsciência. Ela precisa ser reinventada no ambiente escolar, pois tem sido vivida de maneira vazia e pífia na maioria das vezes. Agora ela vem associada de modo poderoso aos recursos tecnológicos.
A união entre arte e tecnologia num crochê contemporâneo poderá estabelecer novos padrões estéticos, como nos ajudar a compreender melhor o mundo onde estamos construindo essas tecnologias.
Relações interpessoais e relações pedagógicas: as relações interpessoais que, no aspecto da relação professor-aluno , veem-se tratadas como relações pedagógicas são centrais nos processos de construção do conhecimento. E continuarão a ser.
Não importa se a modalidade educativa é presencial o a distância. A relação pedagógica é central e exige conhecimento, diálogo, escuta sensível, tolerância, criatividade e, também, com certeza e firmeza de decisão.
Deverão ser objeto de estudo, de forma individual e coletiva e, trazer também objetivos de autoformação.
Afirmação política dos atos educativos: somos seres políticos e vivemos em comunidades, em coletividades.
Nossos atos educacionais e educativos também são políticos, mesmo quando não estão no âmbito das subjetividades ou intersubjetividades.
Para além das crises sistêmicas de cunho econômico-político e da decepção com a postura dos políticos profissionais, o trabalho educativo precisará ser feito, por professores e alunos, com consciência política.
Precisamos responder:
Onde queremos chegar?
Qual nossa relação com os poderes para chegar onde queremos?
Esse é o Brasil que desejamos?
Repensar o homo consumans: é vital que os hábitos que tanto expressam o consumismo sejam repensados.
Outros questionamentos nos afrontam:
Como superar o consumismo sem autoconhecimento?
Sem o auxílio da arte?
Sem a reflexão política?
Sem auxílio das tecnologias?
Sem narrativas visuais que nos permitam enxergar o mundo que estamos destruindo?
Uma nova postura diante das crianças: a postura que ainda é predominante em nossa cultura ainda é adultocêntrica: a criança é o ser da falta e seu discurso não faz sentido. Assim como é vista como um ser que tão somente copia e reproduz o que vê.
Há de se mudar essa postura. As crianças reagem à cultura dominante, reconstroem e constroem cultura, apesar de estarem ainda sendo iniciadas na cultura historicamente construída, são também capazes de elaboração própria, ainda que inacabada.
Aliás, como nós, adultos, precisam ser ouvidas, com a capacidade de escuta sensível dos educadores, sejam pais, sejam professores, sejam tutores ou mesmo parentes.
Uma concepção mais ampliada de espiritualidade (entendida aqui como dimensão antropológica), ou seja, o espírito não é entendido não como uma parte de nós, mas como um momento pleno de nossa totalidade consciente, vivida e sentida dentro de outra totalidade maior que nos envolve e nos ultrapassa.
É o universo das coisas, das energias, das pessoas, das produções histórico-sociais e culturais.
Pelo espírito captamos o todo e a nós mesmos como parte e parcela desse todo (Leonardo Boff). Esse é um caminho muito importante para a construção de sentido para a existência humana.
Cuidado com Gaia (planeta Terra) e os viventes a continuidade da vida exigirá de todos que desenvolvam grande capacidade de cuidado com o meio ambiente, respeitando a Mãe-Terra e com os viventes que nela habitam. Não só o hábito predatório deverá ser superado, mas o cuidado deve se tornar um novo hábito.
O desafio é que essa postura se inicie em grupos menores, como sala de aula, como a escola, por exemplo.
Para a formação de professores para as novas gerações será necessário:
Que os professores observem e estudem as novas gerações, suas peculiaridades, possibilidades e limites.
Estudem também os processos de mudança paradigmática e as rupturas deste tempo, bem como se empenhem em construir novas sínteses em suas práticas educativas.
Tais sínteses, sempre inacabadas, devem favorecer a abertura de caminhos novos nos processos de reinvenção das propostas escolares.
Que os professores mergulhem sistematicamente no autoconhecimento e no resgate crítico da própria formação.
Reconhecer, desconstruir, reconstruir criticamente o próprio caminho profissional, de acordo com as necessidades de cada momento histórico, é algo fundamental para o trabalho docente.
Será necessário desenvolver além de conhecimento específico da própria disciplina, também a capacidade de lidar com diferentes linguagens.
Será fundamental o domínio de tecnologia da informação e de comunicação, para propiciar o diálogo e interação com as novas gerações.
Também a linguagem artística devera ser utilizada e bem explorada no sentido motivacional e promover novas possibilidades de autoconhecimento
Professores das gerações baby boomers (geração BB) e da geração X deverão perder o medo com os processos computacionais, pois os aproximando desses processos poderão criar novas narrativas de que nosso tempo tanto necessita.
Os projetos pedagógicos e do trabalho coletivo são saberes que a escola é cada vez mais uma realidade coletiva, que lida com diversidades e adversidades. Não é possível a construção do trabalho escolar a partir da ação isolada e individualista dos professores.
Tempo em que as culturas humanas “se agitam” no empenho de construir novos caminhos para dar continuidade à vida, os desafios pedagógicos que os professores enfrentam diante tais novas gerações sugerem:
Que a construção da inteireza, como síntese criativa e inacabada dos contrários presentes na condição humana, continua ser uma questão fundamental que, se respondido positivamente, auxiliará a construção de novas perspectivas para prática docente em especial para a humanidade em geral;
Que na construção coletiva se faz imperativo que em nossa história e em nossos saberes acumulados, saibamos definir qual projeto ético queremos para defender, como conjunto humano, e como cidadão, tomando como ponto de partida nossas diferenças;
Que as artes são um caminho privilegiado de autoconhecimento, autoexpressão e construção de saber transdisciplinar e, como tal, podem auxiliar o processo humano de desenvolvimento das potencialidades humanas e incrementar a expressão da leitura de mundo;
Que os professores, gestores e demais auxiliares se abram, corajosamente, ao aprendizado de novas linguagens, de modo especial, às imagéticas, computacionais e multimidiáticas, pois sem dúvida, este será um caminho não só de aproximação das novas gerações, mas também de aproximação e familiarização com as maneiras contemporâneas de construção de conhecimento;
Que os processos formativos de professores possam ajudar a formar e informar profissionais com criatividade operosa e grande capacidade de diálogo, aspectos indispensáveis para construir um mundo produtivo, livre com maior alegria, beleza e fraternidade.
Que enfim, haja uma proximidade afetuosa, paciente e inventiva das novas gerações.
Enfim vencer os desafios educacionais estabelecidos pela evolução tecnológica propõe também a mudança da metodologia nas aulas.
Assim, o educador contemporâneo precisa ir além do conteúdo da aula, mesmo que disposto numa lousa interativa. A função do professor é extraordinária, precisa ser um comunicador para atrair os discentes ao conhecimento e a construção da reflexão crítica de nossos aprendizados.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 14/05/2014