Eles estavam lá
o tempo todo e,
eu nem os via.
O microscópio ampliou a visão
e as doenças.
Estávamos resignados a
morrer de causas suspeitas,
inverossímeis e desconhecidas
honestamente.
Eles estavam lá..
os vermes, os vírus,
as bactérias e os fungos.
Tramando a morte em silêncio.
Como ratos
que fogem do navio.
Como ladrões
na calada da noite.
Estavam lá.
Era inacreditáveis.
Razões religiosas os explicavam.
Terços e missas os espantavam.
Ideologias ou rituais os corrrompiam.
Mas permaneciam lá.
Impreterivelmente.
Inabaladamente.
Ficando nas entrelinhas,
na inércia pausada
do calendário.
Nos compromissos inadiáveis
para um futuro inesperado.
E, agora?
Que os vejo.
Que sei de sua existência essencial.
Dos perigos e engodos
que a vida traz.
Talvez a morte seja alívio.
Talvez seja apenas mordaz.
Essa agonia déjà- vu.
Esse olhar pedinte
medigando afetos.
Agora que esse olhar
vê através das minúcias...
corpúsculos,
átomos e matérias intangíveis.
Que ainda olha incrédulo.
Do infinito mundo ao redor.
Imperceptível mas presente.
O que mais poderão ver meus olhos?
Se a visão total é sempre
a mesma visão parcial de tudo...
Um pouco de tudo...
e, ao mesmo tempo,
um nada perto do todo...
Ou as raízes profundamente
escondidas corroídas
por cupins sórdidos...
a derrubar monumentos.
Referências.
Preferível sofrer com
absoluta ignorância...
do que essa lucidez ácida
e sem esperanças.
Sem a expectativa de ver
ainda mais coisas.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 05/05/2014
Alterado em 05/05/2014