O exercício fonético da palavra,
a expressão da face
do palato e da língua.
A construção frasal.
A malemolência de vírgulas e reticências.
Danças semânticas e semióticas.
O marchar fascista da sintaxe.
A estatística do parágrafo.
Pensamento escrito e vomitado.
O encontro da alma humana
com a perfeição e com a falha.
O erro pedagógico que gera o
hábito de aprender.
Aprender a aprender.
Ensinar, aprender
e ensinar novamente.
Conhecimento como líquido fluído.
Inconstante e multiforme
Tal como mercúrio
que é duro e líquido
simultaneamente.
Vencer a barreira do som.
Vencer a surdez
Vencer a invisibilidade
confortável
de não ver misérias pungentes.
de ver sobreviventes em guerrilhas
escamoteadas.
O tiro preciso do fuzil mais
hi-tech não mata a miséria.
Não elimina os abismos instantâneos
da escada da favela.
O dialeto sofrido de sílabas
carcomidas.
Palavras erradas.
De olhos doloridos
De quem não enxerga,
não come e nem pertence
a paisagem...
É cisco.
É jaça.
É a pedra do meio do caminho,
mas sem poeta.
Sem métrica existencial
da dignidade.
São olhos que mostram
almas à procura
de alguma humanidade
possível
que lhe salvem do
sorvedouro do esquecimento,
da indiferença.
Da sentença condenatória
do preconceito.
Buscam a redenção
e só conseguem esmola.
Pedem quando deveriam exigir.
Exigem quando já é tarde demais.
O corpo se foi.
Embalado em caixão.
Sem prosa e nem atavios.
Morrer com um número
apagado no quadro verde
do fundo da sala de aula.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 26/04/2014