Escrever
Reescrever
Escrever de trás para frente.
Invertido, pervertido e
subversivo...
Escrever é catarse...
Palavras saem como gestos,
como gás carbono
trocado por oxigênio.
Lemos o mundo e traduzimos
pelos poros, pelos olhos,
pelas palavras escritas
na alma,
ou em algum
papel impertinente.
Que clama,
que roga... amassado
espoliado a busca
de alguma semântica.
Gestos, signos,
fumaças ou símbolos.
Tudo afinal fala e escreve.
Descreve.
Prescreve.
Transcreve.
Por entre as linhas
há magia subrreptícia.
Por entre as palavras
há silêncio de séculos.
Há a história das palavras
por detrás de sua origem.
Seus brados.
Suas lápides.
Limadas pelas línguas.
Pelos dialetos.
Pelos decifradores.
Escrever por um triz.
Riscos e rabiscos
a beira do abismo.
Resgatar a palavra falha.
A erronia dita ou meditada.
Registros gráficos.
Vestígios.
Fonemas calcados em papel.
Scripts líricos
declamados em silêncio
por almas cúmplices
na latência humana.
Escrever é
ser bastardo e traidor,
ser abastado trovador
Por delatar
corajosamente
tudo que vê ou sente,
ou apenas imagina.
E trair covardemente
de modo explícito
todas as causas
e guerras.
Por cantar sem rimas.
Entoando sem métricas
O rico vocabulário
da mera sobrevivência.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 01/04/2014