Claudicante
Quanta escuridão.
Quanta desilusão.
A tristeza de se morrer assim.
Inexplicavelmente.
Vítima óbvia do descaso e
do capitalismo,
da política assistencialista.
O pecado de Cláudia
foi ser manca na vida.
Claudicou ao
dobrar aquela esquina.
Trazia um copo de café preto
ainda quentinho...
E então fora alvejada.
Tiraram sua vida.
Com a precisão
cruel de dois tiros.
Atravessaram-lhe a vida
e subtrairam a dignidade
de seu cadáver.
Ficaram oito filhos.
Ficou o marido.
Ficaram os olhos incrédulos
diante da tragédia cotidiana.
Ficou na mídia.
Todos ficaram órfãos
A vizinhança que gritava
explicações
em seu português empobrecido
mas urgente...
Ninguém a ouviu.
Quem ouvirá esses ecos?
Quem acenderão as velas?
Quem socorrerá esses peões
derrubados no tabuleiro
da mísera explícita.
Nesse jogo de reis
onde os peões
são descartáveis.
E, a nobreza se farda
de vergonha.
Quantas Cláudias ainda precisam existir?
Quantos Amarildos?
Quantos desaparecimentos e mortes
nas estatísticas solenes
ainda aparecerão e se multiplicarão
até que alguém se comova
para além das lágrimas.
Quais eram seus sonhos, Cláudia?
Todos foram interrompidos.
Evaporaram-se e habitam agora as nuvens
Que castradas fogem até agora
de toda essa brutalidade.
Dissiparam-se humilhadas por
estarem simplesmente
sobre cabeças humanas.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 20/03/2014
Alterado em 20/03/2014