Revoluções
Ninguém entende nada.
As palavras são inúteis.
Os gestos são pantomima.
As cores são fenômenos inexplicáveis.
E as formas revoluções intestinas.
Ninguém entende nada.
Nem conceito e nem poesia.
Há uma rima na esquina
balançando seu sufixo perdido...
Na velocidade dos carros
Ou na maresia dos ventos...
Ninguém entende nada.
Nem no casulo e nem depois na borboleta.
A vida é um enigma
que só encontra a lápide
como bloco de recados...
Ninguém entende nada.
O lirismo do copo suado.
As gotas de orvalho.
Ou as lágrimas sagradas de uma dor
insofismável...
Há muito sentimento no mundo.
E pouco mundo de sentimento.
Há muita humanidade nos bichos.
E poucos bichos
tratados com humanidade.
A mármore lá fora agoniza sozinha
diante do grafite garatujo
que esfrega rebeldia...
E se traduz em sujeira urbana
na carência explícita.
Amores, afetos e melodias...
Passam incólumes pela indiferença
baldia...
E o usucapião de corpos
se tomam de assepsia
no chuveiro conta-gotas
ou no mar de perfumaria.
Há na chave mais mistério
que a aleivosia
de quem não entende nada.
Mas finge... que entende.
E, alguns fingem tão bem...
que parece até poesia.
Outros nem fingem,
mas fingem que fingem
e dizem a verdade por acaso...
E ocaso do dia...
silenciando o tempo morto
ressuscita um recomeço...
Onde o que ontem não entendia
é página virada de um catálogo
de agonias.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 02/12/2013
Alterado em 28/12/2013