hoje eu sou excremento
de mim mesma
jogado na louça fria
do banheiro
hoje fui expulsa
daquilo que chamam sanidade
enlouqueci como forma
de sobreviver
rompendo barreiras,
construindo mitos e
superando o incontornável
e, principalmente
transcendendo o óbvio e vulgar
hoje estou fora de mim,
fora do planeta
regurgitando a genética.
Procurando ser diferente
daquilo que esperam,
daquilo que me fizeram
traindo raízes, tendências
e principalmente contrariando
o autoritarismo barato
dos que desejam o poder.
Hoje sou indomável.
Sou abominável.
Pois não procuro afeto
e nem identidade.
Não procuro razões nem
fundamento
Minha filosofia é apenas
o presente filmado pela
retina que o torna
em passado
em três reles segundos
Tudo o que é
nesse instante
rapidamente torna-se o que foi...
E, o futuro bate à
porta convidando-nos
para velhice.
Para sermos ultrapassados.
Quero ver você com o
olhar da memória.
Com os registros guardados
e infectados na alma.
E o ranço de ser humano
Demasiadamente humano.
Pecaminosamente humano.
Inexoravelmente humano.
E ser deus em cada coisa.
E ser único em cada instante diverso.
E ser total em cada fragmento.
E ser inteiro mesmo
que em cacos
Esmigalhados pela
contundência do tempo.
Hoje sou excremento íntimo.
Sou confissão aberta.
Sou despudoradamente eu juntamente
com as circunstâncias
Que se agarram ao meu vestido
E se ajoelham diante
dos meus pés.
Hoje sendo outsider
posso ver que sobreviver
com dignidade e decência
é irremediavelmente
para muitos poucos.
Ao menos esse deserto
é vasto e tépido.
Tal qual o útero de
onde um dia sai.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 23/10/2013