Não quero.
Não quero.
O desejo foi abortado quando nasci.
Meu corpo já está programado geneticamente
para dores e prazeres...
Pouco importa minha opinião ou escolha.
Decifraram o genoma humano...
Quero uma cópia da célula-tronco da felicidade,
da sabedoria e um pouco da eternidade
Com o carimbo poético da saudade.
Quero o lirismo poético
Do entardecer sangrando num céu lilás
Quero o titubeio,
a gagueira nervosa da semântica velada.
Quero a leitura dos olhos
Que silenciosos gritam
e ironizam a palavra.
Quero e não quero.
Parte é desejo e parte é abstenção.
Sou monja de minhas emoções...
Coloco-as no monastério do pensamento
E, sob a luz fugidia de velas
Fico a decifrar a luz envolta de trevas.
Ou fico a desafiar as trevas com tão pouca luz.
Gosto de coisas difíceis.
O que está oco está preenchido de ansiedade.
O que está repleto está preenchido
de ocos invisíveis.
A vida é um buraco.
E nessa toca, há um bisão pintado na parede.
Há pauzinhos traçados contando os dias...
Há, no fundo, bem fundo, uma estranha luz azul.
Uns trilhos carcomidos pelo tempo...
Uma nesga de água e muitas pedras coloridas.
A imaginação é o cinema mais bonito do mundo,
Mais fantástico,
Mais entusiasmante com o detalhe da privacidade e
exclusividade.
Mas nem sempre dirijo a cena.
O inconsciente é trapaceiro.
Não posso ter o desejo.
Ou ter você como objeto de bolso.
Cadeira e chicote não irão lhe domar.
Minha persuasão também não...
Meu discurso-panaceia não serve
para todos os males.
E nem minha esperança para o futuro.
Não quero.
Negociar tudo e sempre.
Ponderar e flexibilizar o duro da realidade.
Não quero.
Ser adorada em troca de adorar...
Não quero trocas, escambos e permutas.
O comércio das paixões é cáustico
E deixa resíduos de ódio e decepções.
Não quero.
Quero você hoje e agora.
Nesse exato e único instante
Como um flash que brilha num segundo raro.
E, no outro é apenas lembrança
ou fotografia mental
Impressa no arquivo da alma.
Quero seu olho azul sob o mar azul
Numa miragem de deserto...
Então beberei seus olhos...
Suas verdades sólidas imersas em lágrimas
E rimas ilógicas.
Quero e não quero.
Parte de mim acolhe.
Parte de você recolhe.
E, parte de nós recicla.
O resultado final é incógnito
Guardado a sete chaves pelo infinito.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 21/05/2013
Alterado em 02/06/2013
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