Ad pater
Fui a filha não amada.
Repudiada, repelida e rejeitada.
Fui a filha mais parecida.
Estética, genética e esquecida.
Nas lembranças de criança
Ficou a dor e a ausência.
Sentida, repisada e amarelecida.
Nunca entendi o porquê.
Quis lhe perguntar.
Quis me aproximar.
Quis humanizar-me perante você.
Uma pedra mármore de tão fria e distante.
Contornei as palavras,
Estudei demoradamente as situações.
O ângulo das sobrancelhas.
Por qual aresta eu penetraria
Em sua estória?
E fazia magicamente algum significado.
Fui a filha morta que
simplesmente estava viva.
E, o pior: a causa de você
pagar pensão.
Fui um débito
mas não um descendente.
Desculpe-me.
Juro que não inventei essa história.
Nem para mim e nem para você.
Nunca quitarás o débito afetivo deixado.
Perdoe-se pelo imperdoável.
E durma bem com a consciência
dos indiferentes.
Quanto à mim,
o único pai que conheci
foi deus.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 16/01/2013
Alterado em 04/02/2013
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