"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos

Vírgulas
As palavras não são ditas por você
É você que se diz pelas palavras
Não são os dias que passam por você
É você que vive os dias, um a um...
Definhando até que chegue a morte
E enquanto isso, tudo que há é poesia.

A poesia que se diluí na primavera contida
A poesia ilusória da vida e da morte.
Na flor da lapela do cadáver
Nos olhos tristes da criança desnutrida
Na roupa suja jogada no corpo
Arquitetando decência numa miséria explícita

Há poesia nas palavras não ditas
E sobrevive ainda a poesia,
nas palavras malditas
Na febre, no frêmito...
Na catarse epilética dos gritos,
sussurros e ladainhas

Há poesia exatamente
no vão entre o sofá e a almofada
Apertada no peito, marcada no calendário.
E regada pelas lágrimas no chão d’alma

É a lama que nos revela a solidez
Assim como é a água que nos revela a terra.
É a palavra que é ponte, e é trégua
E nos redime nessa batalha invisível.
Nas orações e preces.
Nos mantras e nas cantigas de roda.
Na música litúrgica dos rituais imponentes.
E na cantiga de ninar.

A poesia é soberana e preexiste
a tudo afinal...
E, então somos as palavras,
Moldamos-lhes sua fonética,
Desenhamos-lhes uma grafia,
a expusemos em caligrafia.

Nua pelo manejo da mão.
Pura pelo aceno do significado
tatuado na semântica complicada
dos solitários.
Repleto de silêncio poético
das vírgulas.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 03/09/2012
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