"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos

De bestas e de chuteiras
De bestas e de chuteiras

Tama savata!!! A besta que há em mim, salva a besta que há em você...
um cumprimento africano de tribos que foram dizimadas pelo branco colonizador
pela vitória do Brasil na derrota da pátria de chuteiras...


Só o céu plúmbico, cinza gris anunciando uma derrota da seleção canarinho que deixou encantar nossas atenções para um quadrado nada mágico, mas metafórico... Perdemos. Perdemos o hexa.... Seis vezes perdemos o giro da catraca anterior.

Precisamos ter algumas derrotas, para ganharmos consciência desse mar de mazelas em que naufragam política, história, cidadania e futuros nacionais... Precisamos de algumas derrotas, para nos aperceber que não basta mais sermos a pátria de chuteiras... E que travas de algumas destas estão bem fincadas em nossa ingenuidade, em nossa passividade indígena e hindu... que diante do Ganges se sacrifica, que diante da miséria queda-se inerte, sem um sopro de esperança ou de indignação.

Nas últimas décadas, aliamos as nossas vitórias futebolísticas a estrondosos fracassos institucionais, governamentais... na década de 70 , enquanto sumiam, comemorávamos esfuziantes o tricampeonato... e pátria rendida sob as botas da ditadura verde-amarelo, era ainda alfinetada pelas estrelas do pavilhão ostentado...

Finalmente, livramo-nos a duras penas da fogosa ditadura, e passamos ao mixuruca estágio de estagnação, mesmice e subserviência aos conchavos, aos acertos de bastidores, e as CPIs intermináveis a nos provar que nem tudo que se sabe, se consegue provar, e, muito menos punir.

Acredito que no inverno de nossa derrota ao hexa, ganhemos de brinde a necessidade de sermos algo há mais que a pátria de chuteiras... E que não só combatemos o preconceito racial, mas o social, o educacional e, todos os grandes abismos a nos emaranhar numa pátria quase tão desarticulada como foi a equipe canarinho diante da Marselhesa...

“Avante, filhos da Pátria,
O dia da Glória chegou.
O estandarte ensangüentado da tirania
Contra nós se levanta.
Ouvís nos campos rugirem  (...)”

“Allons enfants de la Patrie
Le jour de gloire est arrivé
Contre nous de la tyrannie
L'étendard sanglant est levé (bis)
Entendez vous dans les campagnes mugir (...)”

De novo, estamos diante de nós mesmos, nossas deficiências, não só futebolísticsa, mas sobretudo no sentido social,  de nossa falta de engajamento, de nossa imatura democracia, engatinhando pelos corredores estreitos e cíclicos da história...

Perdemos ficamos triste e, alegremente podemos despertar desse enorme berço esplêndido, de inenarráveis dotes naturais e, da ginga malandra. Para nos afirmarmos, com um plus que ainda podemos conquistar... e a principal alavanca é a educação... quantos investimentos podemos envidar em nossos filhos, que não são só filhos da pátria... mas filhos de nossa história que fizemos dia-a-dia de vitórias  e derrotas.

Precisamos cair dos saltos altos de nossas chuteiras, e fincarmos nossas travas no solo brasileiro, a procura da identidade nacional, e teremos  enfim a catarse de um gol.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 09/02/2007
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários



Site do Escritor criado por Recanto das Letras
 
iDcionário Aulete

iDcionário Aulete