Há entre as folhas caídas do outono
O segredo da vida e do vento

Há entre as páginas do livro
O segredo da narrativa e da palavra

O grande encantador de homens
A grande pitonisa da história
a palavra
Dita, falada,
escrita, gesticulada
nas reticências

A palavra subliminar,
A palavra mental e a inventada.

Não inventei ainda uma palavra
para você.

O mundo ainda não inventou
uma estação inteira
para você
um cais sem amarras
uma vida sem morte

Assim teremos que partilhar
As primaveras de flores mortas
A combustão do verão indolente a queimar
a esperança de brisa

No outono
As folhas crepitam registros de vidas

Vidas faladas
Vidas passadas
Vidas em silêncio e gesto.

No inverno
o frio sopra em sua espinha dorsal
o medo do futuro incerto…
o medo da angonia sem fim

Até que bate à porta
o imprevisto.
É a poesia aquece as almas
para sangrarem um novo ciclo.