"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos

Cárcere

Havia sofrimento impresso nas paredes
Nas frestas exalando solidão e tristeza
Havia mistério desenhado nas sombras
E medo estampado nos olhos

A porta era um umbral inatingível
A chave era milagrosa
sorvia o abismo e o instante
Engolia toda minha esperança
E me sorria ao som do tilintar

Havia apenas penumbras e escaras
na pele, na alma e nos sapatos

O desconforto não era sentir,
perceber e esconder
sob o silêncio dos olhos
o tom hepático e amargo da dor.

A compulsiva dor corrosiva
a dilacerar tudo, boas lembranças,
esperanças e até mesmo o amanhã...

No cárcere os dias não passam
Apenas falecem num monastério oculto
O sol é negro e está de luto.

No cárcere as noites não terminam
Apenas se tornam latentes
e são estranhamente esculpidas
na escuridão da sala.

As janelas, as grades e a impossibilidade de fugir
É apenas mais uma estratégia da loucura,
embalsamada na angústia de perder
a capacidade de amar,

De perder um tempo vivido
e que nunca voltará

No cárcere, o tempo é castigo.
O espaço é inútil
E as palavras azedam bolorentas
Pois foram guardadas dentro do livro
do ressentimento.

No cárcere, a chave não é solução
É a pequena ponta do abismo
a desafiar nossa imaginação e permitir
alguns instantes  de ilusão de liberdade...

Por onde a alma vagueia...
Por onde entranham os ventos
Por onde se esfregam
até largar o cheiro...

O cheiro de cárcere
Preso às vestes
e atado aos destinos.

No cárcere o número é
a fantasia do finito.



GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 19/12/2011
Alterado em 19/12/2011
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