"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos

Notas de Rodapé do texto: Natureza humana, livre-arbítrio e mundo contemporâneo
[1] A existência do livre-arbítrio tem ocupado ponto central na história da filosofia e na história da ciência. Pois possui evidentes implicações religiosas, morais, psicológicas e científicas. No âmbito religioso, pode implicar que uma divindade onipotente não imponha seu poder sobre a
vontade e as escolhas individuais. Na ética, o livre-arbítrio implica em os indivíduos são considerados moralmente responsáveis por suas ações. E, por fim, na psicologia, este implica em reconhecer que a mente controla certas ações do corpo.
Há muitas visões sobre a existência da liberdade metafísica, o que implica em reconhecer o poder de escolher entre genuínas alternativas. Pelo determinismo mecanicista e o determinismo teleológico se chegou a afirmar que todos os acontecimentos, incluindo as vontades e escolhas humanas, são causados de forma necessária e suficiente por acontecimentos anteriores. Assim o homem seria destituído de liberdade de decisão e de poder para influir nos fenômenos em que toma parte.
Pelo determinismo mecanicista e pelo teleológico rejeitam a existência do livre-arbítrio, admitindo a acepção da liberdade como ausência de determinação causal. Em reação a esses dois tipos de determinismo encontramos o libertarianismo que apenas concorda parcialmente com o determinismo, admitindo fatos causais que ocorrem de forma necessária, porém não suficiente, reservando assim algum espaço para a liberdade. O indeterminismo é uma forma de libertarianismo que defende a existência do livre-arbítrio e que as ações ancoradas no livre-arbítrio são efeitos sem causas.  Ainda existem os que acreditam que ao invés da volição ser um efeito sem causa,  defendem que o livre arbítrio e a ação do agente sempre produz o evento (tal conceito é muito usado na economia).
Diferencia-se tal libertarianismo do libertarismo muito debatido na filosofia política, ciência política e economia. Talvez a gênese das confusões seja o fato de que na língua inglesa os dois conceitos são chamados pelo mesmo nome, ou seja, libertarianism. E o que justifica o fato de alguns autores de língua inglesa utilizarem mais frequentemente a palavra voluntarism para se referir ao libertarianismo. O compatibilismo é a visão de que o livre-arbítrio emerge mesmo em incerteza metafísica. Trata-se de uma versão mais leve ou menos radical do determinismo, posto que aceita a existência de eventos mentais e físicos são causados de modo necessário e suficiente. A noção de liberdade interior, a que rege os pensamentos, crenças e desejos. Resume o livre-arbítrio como o que respeita as ações, ou pressões, internas e externas. A filosofia que aceita tanto o determinismo quanto a liberdade de escolhas é também chamada de soft determinism, expressão de autoria de William James para designar o que chamamos hoje de livre-arbítrio compatibilista. (In Wikipédia – A enciclopédia livre, verbete livre-arbítrio, disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Livre-arb%C3%ADtrio#A_ci.C3.AAncia_do_livre-arb.C3.ADtrio Acesso em 02.11.2011).


[2] O paradoxo conhecido como o asno de Buridan não foi originado pelo próprio Buridan. É encontrado na obra De Caelo, de Aristóteles, onde o autor pergunta como um cão diante de duas refeições igualmente tentadoras poderia racionalmente escolher entre elas.



[3] Para o determinismo é sistema que subordinava as determinações humanas à ação da Providência; princípio científico segundo o qual os fenômenos são regidos por leis necessárias e universais, todas as ações humanas e decisões de vontade a leis tão rigorosas como que regem os fenômenos materiais, negando, absolutamente o livre-arbítrio. Pela doutrina determinista toda e qualquer ação é resultado de uma causa ou grupo de causas, sendo por estas, determinada e condicionada. Acredita-se na universalidade do princípio causal e, ipso facto, consequentemente, na determinação necessária das ações humanas pelos seus motivos.


[4] “Diz-se livre o que existe exclusivamente de sua natureza e por si só é determinado a agir; e dir-se-á necessário, ou mais propriamente coagido, o que é determinado por outra coisa a existir e a operar de certa e determinada maneira (ratione)” Spinoza.

[5] Paul Ricoer entende o conceito de falibilidade diante da polaridade finitude e infinitude, daí proclamar Homo simplex in vitalitate, duplex in humanitate (O ser humano: simples em sua vitalidade, duplo em sua humanidade) muito aplicado na ética e na filosofia prática.

[6] Nietzsche afirma que não conhecemos as leis da natureza, mas apenas construímos em torno delas um emaranhado de conceitos que são meras abstrações lógicas, tidas como verdadeiras por serem úteis.  

[7] Sem liberdade não há moral. Basta citar Tomás de Aquino que em uma frase lacônica sugere todo o essencial: "o homem tem o livre arbítrio, de outro modo conselhos, exortações, preceitos, proibições, recompensas e castigos seriam coisas absolutamente vãs".

[8] A moral de rebanho ou a moral escrava da obediência e resignação só propõe a anulação da vontade e a repressão dos desejos.

[9] A “fábula da liberdade” – isto é, a história de um conceito que nos faz compreendermo-nos de forma equivocada – atravessa alguns estágios. Na primeira fase dessa história dos sentimentos morais e do conceito de liberdade, o homem era pouco mais que um animal. O valor da ação residia inteiro na utilidade dessa ação para sua comunidade. A moralidade, absolutamente restrita ao círculo comunitário ao qual pertencia cada animal humano em questão, era definida pela utilidade da ação ao grupo. Um assassinato não teria nenhum valor negativo caso trouxesse boas conseqüências para o grupo social.

[10] Está no Sobre as 83 Questões Diversas, onde comenta: "A virtude é um hábito da alma conforme a natureza e a razão [...] Tem quatro partes: prudência, justiça, fortaleza e temperança. A prudência é o conhecimento das coisas boas, más e indiferentes. Tem três partes: memória, inteligência e providência, através das quais se olha o passado, o presente e o futuro. A Justiça é um hábito da alma que observa a utilidade ou bem comum e dá a cada um, o que é seu segundo a sua dignidade. Suas partes são a religião, a piedade, a gratidão, a consideração, a observância e perseverança; A temperança é o domínio firme e sensato das paixões desordenadas da alma. Suas partes são a continência, a clemência, a modéstia. Todas essas virtudes hão de buscar-se por si mesmas, sem nenhum interesse (De div quaest 83, 31, 1-2).

[11] Nossas escolhas são sempre condicionadas aos nossos contextos e limitações. A concepção de que existem escolhas absolutamente livres é uma ilusão de nosso próprio narcisismo. (in FACIOLI, Adriano. Existe livre-arbítrio? Disponível em http://inquilinosdoalem.blogspot.com/2011/05/existe-livre-arbitrio.html Acesso em 02.11.2011).

[12] Nietzsche zomba abertamente do racionalismo moderno, e um de seus alvos prediletos era Kant, e chama sua filosofia séria ou grave. Também ironiza a pretensão à descoberta de algo profundo, como os fundamentos de nosso conhecimento e de nosso agir moral.

[13] O livre-arbítrio é, assim, eminentemente ético, e gira também na esfera dessa disciplina. A liberdade humana marca a dignidade ética do homem. Pode-se, em muitos casos, prever, com certa segurança, quais as atitudes que um homem determinado, desde que conhecida a sua formação moral, tomará em face de certas circunstâncias. Compreende-se que, em tais casos, há um imperativo categórico, que é aceito, e serve de norma para a atuação de um indivíduo eticamente bem formado. A liberdade humana não pode ser negada, porque se realmente nunca fosse o homem livre, jamais lhe surgiria a idéia da liberdade. Por não se poder explicar a liberdade, dentro da matéria ou no atuar da matéria, tem ela servido de argumento em favor da espiritualidade do homem e também tem sido tal fato a razão porque os inimigos da espiritualidade humana, mais dia ou menos dia, terminam por negar a liberdade e atraiçoá-la.

[14] Determinar o valor da vontade de verdade é uma das tarefas de sua filosofia, a qual analisa todo tipo de valoração presente por detrás da lógica e da moral a fim de captar que tipo de condições fisiológicas esses valores estão condicionados.

[15] Por vezes, fundamentou-se a mencionada distinção entre o livre arbítrio e a liberdade, defendendo que, enquanto o primeiro requer a ausência de coação externa, a segunda implica também a ausência de coação interna.

[16] O livre arbítrio, que quer dizer, o juízo livre, é a capacidade de escolha pela vontade humana entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, conscientemente conhecidos. Para os escolásticos, esse termo toma um sentido bem claro.  É a capacidade do ser espiritual para tomar, por si mesmo (sem determinações de qualquer espécie), uma direção diante valores limitados conhecidos, para escolher ou não escolher um desses valores ou valores julgados limitados. Só há liberdade onde há apreensão de valor como real, mas dotado de limites. Onde, porém, o valor é absoluto, é natural que a vontade a ele se dirija por impulso natural, revelando uma aspiração necessária desse bem.

[17] Para Nietzsche, os valores não são transcendentes ao homem, ao contrario, o homem é o criador de seus próprios valores e a estes se sujeita e aos outros os impõe. Os valores nada mais são que “humanos, demasiadamente humanos”, pois “em algum lugar, e em algum momento, simplesmente foram criados.

[18] A discussão entre a heterogeneidade e a homogeneidade da existência pode ser claramente evidenciada na ciência a partir do embate entre a filosofia dualista de Descartes e a filosofia monista do filósofo e médico La Mettrie. Descartes concebia então que não somente o mundo é constituído de micropartículas materiais, mas também os seres orgânicos, e, conseqüentemente, os mesmo princípios mecanicistas que regem o mundo se aplicam à vida: o mundo vivo não é diferente do não vivo. Mas o homem, segundo Descartes, é um complexo de duas substâncias distintas entre si: o corpo e a alma, ou seja, o homem é heterogêneo e sua natureza é dualista (cf. Descartes, 1999, p. 268). La Mettrie, em sua obra “O Homem-máquina”, defende severamente posições materialistas, e, nessa obra, critica o dualismo cartesiano e propõe que o homem é puramente máquina, transferindo as atividades da alma para a imaginação, a qual se resume em uma atividade material correspondente a funções cerebrais.  

[19] Em primeiro lugar, coloco a importância das pulsões, que para Nietzsche são as responsáveis pelo andamento de todas as coisas do Universo: a relação entre as pulsões (quantas de energia) e seu efetivar-se são essencialmente responsáveis pelo devir. Estas pulsões são ainda responsáveis pelos desejos, pelas "urgências" e "exigências" tanto do corpo quanto da alma (lembrando que, a alma e corpo, dentro da visão nietzschena, são uno). Portanto, para Nietzsche, as pulsões são o "objeto" da Psicologia: por darem "vida" (e vontade de vida, vontade de desejo e vontade de prazer) ao ser humano.

[20] "Conhecer é elaborar  modelo de realidade" e " projetar ordem onde havia caos". Nesse sentido, três elementos são necessários para que haja conhecimento: a) O sujeito, que é o ser que conhece; b) O objeto é  aquilo que o sujeito investiga para conhecer;  c) A imagem mental em forma de opinião, idéia ou conceito que resultam da relação sujeito-objeto e que passa a habitar a subjetividade daquele que conhece.  Nesse processo, dado que o humano se revela em ser “pensante-sentinte-comunicante”, ele articula sentimentos e pensamentos e os transmite por meio da linguagem simbólica, a qual o diferencia dos demais seres existentes.

[21] O acaso nos diz o seguinte: você não é livre para fazer o que bem deseja. Você é um amontoado de determinações; (In FACIOLI, Adriano. Nada acontece por acaso? Disponível em: http://inquilinosdoalem.blogspot.com/2010/01/nada-acontece-por-acaso.html Acesso em 02/11/2011).

[22] Para Nietzsche, existem dois tipos de niilistas: o niilista passivo e o niilista ativo. O primeiro é o niilista ressentido, é aquele que não promove nenhuma forma de criação de novos valores, que vive sob condições peremptas e não consegue se desprender delas. Por outro lado, o niilista ativo (e Nietzsche se considerava como o primeiro niilista ativo) seria aquele que se empenharia na tarefa de destruir a moral e a metafísica, e, dessa existência vazia restante, erguer novos princípios, criar novos valores.

[23] “Atrair e repelir” em sentido puramente mecânico é uma completa ficção: uma palavra. Sem uma intenção não podemos pensar uma atração. - A vontade de apoderar-se de uma coisa ou de defender-se de seu poder e rejeitá-la – é isso o que “compreendemos”: seria uma interpretação [Interpretation] que poderíamos necessitar de outono de 1885 a outono de 1886, KSA 12.101 .

[24] Apesar de que o pessimismo de Schopenhauer não se adequava totalmente à natureza de Nietzsche, porém este lhe reconheceu a honestidade e sua força.

[25] O ensaio de Schopenhauer acerca de mulheres de 1851 manifestou oposição à “estupidez teutônico-cristã” sobre questões femininas. E ainda aponta que está na natureza da mulher obedecer apesar de reconhecer que as mulheres são mais sóbrias do que os homens.

[26] Nietzsche apontou seis pontos comuns com a filosofia de Espinosa: negam o livre-arbítrio, a finalidade (ou causas finais), a ordem moral do mundo, a ação desinteressada ou desinteresse e o mal e a inspiração no instinto.

[27] O super-homem criado por Nietzsche nada tem haver com aquele retratado pelo filme e famoso pelo personagem Clark Kent, sua única moral era a vontade de potência. Seu mundo é simples e ingênuo, e, seu principal protótipo era Zaratustra – personagem muito sisudo, sério e maçante que possuía sintomas psicóticos perigosos.

[28] Época em que Nietzsche viveu nos idos de 1844-1889 (é a época de sanidade, depois já começa a loucura e deixa de escrever e deixa de existir como pensador), neste momento há o domínio de uma religiosidade oficial, muito institucional - não esqueçam a atitude de Kierkgaard, há muitas semelhanças.

[29] A tragédia expressa o confronto dos homens com os deuses, e nesse embate, o herói transcende adversidades tal qual Prometeu nas tragédias de Ésquilo.

[30] Houve muitas traduções de Nietzsche, nem sempre boas, nem sempre seguras; freqüentemente se tem enfatizado o aspecto mais extremado de sua obra e teve, por exemplo, uma manifesta tendência a desmesura. Os senhores conhecem a famosa doutrina dos dois conceitos de Nietzsche, das duas tendências: o apolíneo e o dionisíaco. Ele falou longamente disto -evidentemente procede de sua cultura clássica, de seu estudo da língua grega e da literatura grega- e sua obra, em conjunto, oscila entre o que ele chamava apolíneo -ou seja, a medida, o equilíbrio, a serenidade- e o dionisíaco: exaltado, violento, apaixonado.

[31] Um quadro das distinções comumente apresentadas entre os deuses Apolo e Dionísio, embora que não retratem verdadeiramente suas essências, mas podem ser descritas resumidamente: Apolo: prima pelo belo, aparência, pela tendência ao sonho, a forma (limite), ao princípio de individuação; resplandecente; ordem; serenidade; ordem; serenidade; Já Dionísio é voltado para a música, embriaguez, para a fala do inconsciente, o uno primordial (não há forma sem limite), Indiferenciação; essência desmedida, domínio subterrâneo.

[32] O apolíneo e o dionisíaco faz parte da estética ativa nietzscheneana pois são observados como par fundamental de impulsos artísticos da natureza, o qual geram estados fisiológicos vitais, estados de sensibilidade tanto no artista quanto no que contempla a obra. Uma questão que deve ser analisada é o fato do dionisíaco ser encarada apenas como o “lado bacanal” da vida e o apolíneo como o correto, certo, equilibrado. É aí que se cometem erros na interpretação da filosofia da arte em Nietzsche, pois ambos andam de mãos dadas entre si como forças cósmicas que fazem parte da nossa vida e do nosso ser.


[33]Para uma apresentação dessa análise de Nietzsche encontrada no texto Sobre a verdade e mentira no sentido extra-moral, citamos esse trecho: “O que é portanto a verdade? Uma multidão móvel de metáforas, (…), uma soma de relações humanas que foram realçadas, transpostas e ornamentadas pela poesia e pela retórica e que, depois de um longo uso, pareceram estáveis, canônicas e obrigatórias aos olhos de um povo: as verdades são ilusões das quais se esqueceu que são, metáforas gastas que perderam a sua força sensível, moeda que perdeu sua efígie (…), mas apenas como meta” (NIETZSCHE, 1974a, p. 54).

[34] “Humano, demasiado humano, um livro para espíritos livres” ('Menschliches, Allzumenschliches'), sendo a primeira obra de Friedrich Nietzsche após o rompimento com o romantismo de Richard Wagner e o pessimismo de Arthur Schopenhauer. Não foi bem aceito pela crítica da época, o que o fez vender apenas cento e vinte cópias no primeiro ano da publicação. Sem dúvida, exerceu influência Richard Wagner pois na opinião de Nietzsche ele conseguiu harmonizar os elementos apolíneo e dionisíaco tal como na tragédia grega.

[35] "Desde que acabou a crença de que um Deus dirigiria os destinos do mundo em seu conjunto e, apesar de todas as curvas do caminho seguido pela humanidade, os conduziria como senhor a bom termo, são os próprios homens que devem propor-se a fins ecumênicos que abrangem toda a terra."

[36] Para fazê-los sentir o que Nietzsche quis dizer eis uma citação de Goethe que se enquadra bem: “Nas ondas da vida, na tempestade das ações, subo e desço, teço aqui e ali, nascimento e morte, um mar eterno, uma vida de mudança! Assim crio no estrepitoso mar do tempo”.


[37] As imagens poéticas são anteriores mesmo às próprias imagens visuais; uma imagem pensada já é uma imagem segunda, já é uma imagem nascida de uma imagem poética anterior. As imagens poéticas, em sua primitividade, são sensações poéticas: não são pensadas, mas sentidas com o corpo todo. As imagens poéticas são imagens vividas.


[38] Zaratustra é concebido à luz da parábola do comportamento, revela-se infantil e simples. O super-homem seria um misto de um grego, um francês, um judeu português e um alemão, seriam os ancestrais sanguíneos, tal qual, Platão, Pascal, Spinoza e Goethe.

[39] Zaratustra, mais conhecido na versão grega de seu nome, Zωροάστρης (Zoroastres, Zoroastro), foi um profeta nascido na Pérsia (atual Irã), provavelmente em meados do século VII a.C. Ele foi o fundador do Masdeísmo ou Zoroastrismo, religião adotada oficialmente pelos Aquemênidas (558 – 330) a.C. A denominação grega Ζωροάστρης significa contemplador de astros. É uma corruptela do avéstico Zarathustra (em persa moderno: Zartosht ou زرتشت). O significado do nome é obscuro, ainda que, certamente, contenha a palavra ushtra (camelo).

[40] Eis algumas frases ou ditos a ele atribuídos a Zaratustra: -"O que vale mais num trabalho é a dedicação do trabalhador".  "O que lavra a terra com dedicação tem mais mérito religioso do que poderia obter com mil orações sem nada fazer". -"Aquele que diz uma palavra injusta pode enganar o seu semelhante, mas não enganará a Deus." -"Deus está sempre à tua porta, na pessoa dos teus irmãos de todo o mundo." -"O que semeia milho, semeia a religião. Não trabalhar é um pecado."

[41] "Vou dizer-vos as três metamorfoses do espírito: como o espírito se muda em camelo, e o camelo em leão, e o leão, finalmente, em criança.

[42]  A teoria da eterna recorrência propôs a possibilidade de estarmos destinados a viver nossas vidas repetidamente sem qualquer variação e nem possibilidade de alterar ou corrigir erros. Embora, seja o filósofo ateu, talvez estivesse fazendo apenas uso da licença poética ao propor mito alternativo por considerar prejudicial à mitologia da tradição judaico-cristã.

[43] Qual é este grande dragão a que o espírito já não quer chamar nem senhor, nem Deus? O nome do grande dragão é 'Tu deves'. Mas o espírito do leão diz: 'Eu quero. ' (...) Para conquistar a sua própria liberdade e o direito sagrado de dizer não, mesmo ao dever, para isso meus irmãos, é preciso ser leão. (...).

[44] No judaísmo, por exemplo, o livre-arbítrio é axiomático. Todos são vistos como tendo escolha livre para decidir em que medida seguirá a própria consciência ou arrogância. Os seguidores do espiritismo acreditam que o livre-arbítrio ganha proporções maiores à medida que o grau de evolução (moral e intelectual)  do espírito se desenvolve. O livre-arbítrio pode ser limitado em determinadas situações, quando isso proporcionar  evolução na condição moral e intelectual do espírito, como exemplo, no caso das reencarnações compulsórias, onde o espírito "ocioso"  é compelido a reencarnar mesmo contra sua vontade, subjulgando-se seu livre-arbítrio.

[45] Leão simboliza um espírito ativista revolucionário deixando de ser o camelo quando não aceita mais submeter-se passivamente à realidade como ela se mostra, e se rebela: quer conhecer a realidade – com a fome de um leão - para transformá-la. O libertário livra-se dos deveres heterônomos e cria para si a liberdade de novas criações.

[46] A Inquisição, ou Santa Inquisição foi uma espécie de tribunal religioso criado na Idade Média para condenar todos aqueles que eram contra os dogmas pregados pela Igreja Católica. Fundado pelo Papa Gregório IX, o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição mandou para a fogueira milhares de pessoas que eram consideradas hereges (praticante de heresias; doutrinas ou práticas contrárias ao que é definido pela Igreja Católica) por praticarem atos considerados bruxaria, heresia ou simplesmente por serem praticantes de outra religião que não o catolicismo. A verdade é que embora o apogeu da Inquisição tenha se dado no século XVIII, as perseguições aos hereges pelos católicos, têm registros bem mais antigos. No século XII os “albigenses” foram massacrados a mando do Papa Inocêncio III que liderou uma cruzada contra aqueles que eram considerados os “hereges do sul da França” por pregarem a volta da Igreja às suas origens e a rejeição a opulência da Igreja da época. (in FARIA Caroline, A Santa Inquisição, Portal InfoEscola, Disponível em: http://www.infoescola.com/historia/a-santa-inquisicao/ Acesso em 02.11.2011 ).



[47] Grande parte da obra filosófica nietzschiana é relativa às questões morais. A posição de Nietzsche é fundamentalmente de crítica aos valores dominantes. A genealogia da moral nietzschiana indica a existência fundamental de duas morais: a moral do senhor e a moral do escravo. A primeira representando o bem e a segunda o mal, travaram ao longo da história humana uma luta fundamental e, ainda hoje, determinam o essencial desta história. Relativamente a toda tradição moral ocidental, como disse, a genealogia transforma “o bem em mal e o mal em bem”.

[48] Esta posição de Nietzsche foi interpretada como relativista e passou a ser o objeto preferido da crítica dos absolutistas. Na verdade, parece ser difícil comprovar um relativismo de valores a partir dos escritos de Nietzsche. O que ele queria era substituir os valores tradicionais calcados, como disse, no ressentimento por novos valores que favorecem a vida. Para Nietzsche, há uma relação intrínseca entre valor e ser humano, ou seja, não há valor independente do modo de ser do homem. Trata-se certamente de uma tese empirista ou subjetivista, mas não relativista de valor.

[49] Foi em Nietzsche, especialmente em suas obras “Jenseits von Gut und Böse” (1886) e “Zur Genealogie der Moral” (1887) que ‘valor’ tornou-se um dos conceitos centrais da filosofia em torno do qual girou, na sua quase totalidade, a discussão moral. É também desde
essa época que se estabeleceu a distinção entre um conceito metafísico ou absoluto e um conceito empirista ou subjetivista de valor. Na primeira acepção, valor assume um status metafísico, independente de sua relação com o homem. No segundo sentido, valor inclui sua relação com o mundo humano, ou seja, com o homem e sua historicidade.

[50] Em “Jenseits von Gut und Böse” encontra-se uma passagem na qual Nietzsche deposita sua esperança “em espíritos fortes e bastante independentes para dar impulsos a juízos de valor opostos, para reformar e inverter os valores eternos; em precursores ou homens do futuro que no presente formem o fundamento que abrigará a vontade dos milênios a abrir novos caminhos” (1886, § 203, p. 90). Os valores tradicionais são ironizados por Nietzsche como valores eternos e invertê-los consistiu a principal finalidade de sua filosofia. Sua intenção era a substituição dos valores da moral cristã, a seu ver, fundada sobre o ressentimento, portanto, sobre a renúncia e o ascetismo, por valores vitais que nascem da afirmação da vida e da aceitação dionisíaca.

[51] “Na verdade, irmãos, para jogar o jogo dos criadores é preciso ser uma santa afirmação; o espírito quer agora a sua própria vontade; tendo perdido o mundo, conquista o seu próprio mundo.” (...)
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 12/11/2011
Alterado em 14/04/2012
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