"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos

a espera


Hoje uma palavra me esperava lá fora
Debaixo da chuva fina entremeada de vapor.
E, a palavra de súbito se tornava pólvora
a explodir significados,
a espalhar signos, cacos e restos.

Daquilo que foi um dia inteiro.
Nada ficou inteiro depois
A hecatombe foi avassaladora
Tudo se moveu, se transformou
Restaram prateleiras repletas de buracos e
ausências.

Fiquei mais pobre,
sem televisão
sem nenhum som

E, no silêncio profundo da solidão
A palavra quieta
permanecia lá fora a esperar
parecia ser paciente e sofrida.

Hoje choveu fino o dia inteiro
E mesmo a tímida borrasca
Era erosiva, úmida e destruidora
E, foi assim, que tudo aconteceu,
foi aos poucos
que tudo ruiu

Foi minando,
em progressão geométrica.
Sumindo,
Escorrendo ralo abaixo

Até enfim sumir completamente...
Sumiram sentimentos,
Pessoas, coisas e lembranças
Nem as fotografias me restaram
Não tenho mais a fotografia
De minha avó com minha filha miúda ainda

Perdi  num furto insensato e injusto.

Hoje a palavra molambenta  continua lá fora...
A pedir roupa nova,
Vida nova,
Linhas novas
e fotografias novas.

Rimas inovadoras ou requintadas
Requentadas no forno brando
Da tristeza sólida dos dias.
E das chuvas.

Hoje, sem essas lembranças
vivas
Ficaram apenas com meus flashes interiores
a esquadrinhar num rascunho
imagens flagradas em meio do abismo
do tempo.

Você quer saber da palavra lá fora, parada ?

Era apenas espera.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 05/01/2011
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