"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos

Fel
Esse fel sorvido
A queimar as palavras
A corroer fonemas
A matar a fome e o espírito

É tudo fel
É tudo lágrima
Sem esperança
É gota sem chuva

É singular na finitude plural
É solitário na infinitude das multidões
É marginal no convexo dos rios

Esse fel amargo a escorrer
por dentro
a escavar em silêncio
Uma lava de vulcão adormecido
A acordar as cinzas sepultas da phênix

Esse fel
a me informar da tristeza
Que se faz eternamente presente
Que se faz quente
Quando o corpo o quer frio,
Quer o abrigo de coberta
Quer o silêncio cúmplice das madrugadas

Quer o cinza do breu adormecido

A esquina,
O fósforo,
a pequena lareira esquecida
Aquecendo o braseiro secreto
E um enorme iceberg
perfurando o casco das ilusões

E essa lágrima cristalizada no rosto
A expressão de tristeza tatuada por
detrás dos olhos
O nanquin do monge a negar o direito das
trevas se espalharem e,
finalmente encontrarem a luz

Flôr de lis
Flôr de cactus
Flôr partida
de uma primavera inteira

Esses pedaços,
Esses trocados,
Esses infernos diários
Estão pouco a pouco
secando a humanidade que há

E, então só restam os monstros
Que matam desesperados
Em busca da redenção,
Ou de uma
violenta sobrevivência.

Só os monstros se nutrem do fel
E permanecem intactos.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 08/03/2009
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