"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos

conhecimento
essas palavras a se espalharem
como areia no deserto
como vento sobre o mar

essas palavras recheadas de entonações,
de fonética,
e semântica
incrustaram na alma
pequenos sulcos
aonde germinaram sentimentos,
devaneios,
esquecimentos.

essas palavras,
seus gestos,
olhos oblíquos a procurar o reto infinito
a tristeza solene
de sofrer em silêncio,
sem lágrimas,
sem esgar ou autopiedade.

essas palavras,
todas condensadas
massacradas num papel,
num verso,
num tema,
ou num selo.

Colado numa carta
sem destinatário final.
e afinal, para quem são as mensagens?

são palavras colocadas num papel enfiado
dentro de garrafa vazia, e
jogada ao mar,
jogada ao acaso
e ,ao descaso do destino,
pelo desatino dos náufragos.

chove muito lá fora,
chove fino
linhas e mais linhas de água e,
decepção
e, todas essas palavras
incapazes de expressarem
minha solidão.


o ciclo infindo das palavras,
no torvelinho das dores cotidianas,
das frustrações rotineiras,
passageiras demais,
a lotarem os bancos internos
da decepção e desesperança.
há um saguão ortográfico a espera dos
acentos corretos.

perdi o prumo,
perdi a razão
enlouqueci dentro da gaveta do armário,
aonde deixei guardadas as lembranças.
em meio as fotografias preto-e-branco.

olhos cegos a tatearem a luz e a imagem,
ouvidos mocos a buscarem sofregamente,
o som ou o significado do som
como se fosse uma legenda.
bocas mortas e mudas a titubearem
os dizeres, os scripts dos personagens e,
a fazer pausas sem fim.

a alma vazia,
só repleta de palavras
que ecoam no túnel da ilusão.
lirismo constrito,
romantismo absurdo de um dia de chuva
e, de nuvens cinzentas
como phênix não-renascida.

essas palavras e o ritual
de pensá-las,
de dizê-las,
de declamá-las;
de jamais morrerem mesmo
ante o silêncio.

essas palavras todas
embrulhando a realidade com sons
guturais, nasais,
átonos e tônicos
sílabas metricamente infinitas e
pausadas
a deixarem rastros humanos
no eco do tempo.

essas palavras e
nenhuma palavra.
silêncio e som,
escultura feita de alma e de corpos
que padecem apenas
por conhecê-las.
carne e o osso do conhecimento.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 24/01/2009
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