Gutta cavat lapidem
A gota minúscula e constante cava a pedra
Vence a rigidez e altivez inquestionáveis das rochas
Vence toda a história composta de mil camadas
Superpostas, esculpidas, acomodadas ou conflituosas
sobre a terra.
A gota da lágrima cava a alma
Espolia-lhe o vigor,
a calma
Falta-me o chão, o sólido das colunas.
Arrebata-me o vento
Secretamente
Como o silêncio dos séculos
E a cumplicidade das sombras
A mão trêmula não conhece o tato
Não conhece o cetim
O afago infantil de um irmão
Conhece apenas o titubeio
Apenas resvalo de um tiro
Que não matou ninguém
A gota cava mortalmente a pedra
Lhe cicatriza o ventre, e
Eterniza a dor de penetrar,
de percorrer,
escorrer
E a abandonar no leito dos rios
Nos cantos das iaras
Nas magias de sereias
A ceifar vidas dos pescadores.
Vencendo a montanha, os alpes
E os icebergs
A gota cai e
derruba um mundo inteiro.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 16/01/2009
Alterado em 10/03/2009
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