"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos

A trajetória filosófica da verdade
O texto percorre vários filósofos e suas definições sobre a verdade, pretendendo não o exaurimento da questão mas principalmente um reflexão mais séria.



O problema da verdade é complexo pois ora repousa na identidade e autenticidade inserida na coisa em si, isto é na sua essência, e, ora repousa na fidelidade do relatos aos fatos ou coisas que já aconteceram, e, numa esperança , na fé de uma promessa a ser cumprida.


De qualquer modo, a dificuldade em se encontrar a diferença entre a essência e aparência, outra áfrica é a identificação da essência, e discernir os elementos a priori e a posteriori em contraste com a caracterização do que venha a ser aparência. compreender princípios
universais e necessários do conhecimento racional; separar preconceitos e hábitos do senso comum e atitude crítica do conhecimento;liberdade de pensamento para investigar o sentido ou a significação da realidade que nos circunda de sua realização;
comunicabilidade, a preocupação com a linguagem.

Como escreve Espinosa, o Bem Verdadeiro é aquele capaz de comunicar-se a todos e ser compartilhado por todos;

a transmissibilidade, no dizer de Kant temos direito ao uso público da razão;

veracidade, isto é, o conhecimento não é ideologia, não é máscara e nem véu para ocultar a realidade e servir a interesses de exploração e dominação entre os homens.


A verdade deve ser objetiva, embora o sujeito do conhecimento está vitalmente desenvolvido na atividade do conhecimento e o adquirido pode resultar em mudanças que afetem a realidade natural, social e cultural.

Seres em situação, a verdade está situada nas condições .
a frágil e poderosa verdade é o que dá sentido à existência humana.

"O homem é apenas um caniço, o mais fraco da natureza; mas é um caniço pensante”. Não é preciso que o Universo inteiro se arme para esmagá-lo: um vapor, uma gota de água são suficientes para matá-lo.

Mas, mesmo que o Universo o esmagasse, o homem seria ainda assim mais nobre do que aquilo que o matou, porque ele sabe que morre e sabe a vantagem do Universo sobre ele; mas disso o Universo nada sabe.

Toda nossa dignidade consiste, pois, no pensamento. É partir dele que nos devemos elevar e não do espaço e do tempo, que não saberíamos ocupar". Pascal

Heráclito de Éfeso "Não podemos nos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque as águas nunca são as mesmas e nós não somos os mesmos."

Aliás, a palavra mesmo é um termo ilusório pois a realidade é uma constante mudança.

A natureza, a realidade é um fluxo perpétuo, no entender de Heráclito de Éfeso.

É a percepção ou o pensamento que conhece a verdade?

Os princípios gerais do conhecimento verdadeiro:


. as fontes e as formas do conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória, linguagem, raciocínio e intuição intelectual;

. a distinção entre conhecimento sensível e o conhecimento intelectual;

. o papel da linguagem no conhecimento no conhecimento;

. a diferença entre opinião e saber;

. a diferença entre aparência e essência;.

. a diferença dos princípios do pensamento verdadeiro (identidade, não-contradição, terceiro excluído) de forma do conhecimento verdadeiro (idéias, conceitos, juízos) e dos procedimentos para a alcançar o conhecimento verdadeiro (indução, dedução, intuição)

Indução é raciocínio que vai do particular para o geral , isto é, que parte da observação dos fenômenos às leis que o regem, que são relações constantes e necessárias que há entre eles.


Não é um raciocínio único pois compreende um conjunto de procedimentos, uns empíricos, outros lógicos, e ainda outros intuitivos.
.
Dedução É o raciocínio que vai do geral para o particular, isto é, desce dos princípios gerais para os fatos particulares O ponto de partida da dedução é sempre um princípio tido como verdadeiro a priori. O ponto de chegada é a tese ou conclusão, que é aquilo que se quer provar.

Conceito é a imagem subjetiva do mundo subjetivo, o conceito é abstrato e geral.

O conceito reflete os aspectos universais do objeto, abstraindo-se os aspectos secundários. Não abrange dados concretos ou particulares, fixa aquilo que é essencial, geral comum a todos.


Juízo é uma relação entre dois ou mais conceitos. ë uma proposição, uma asserção, é uma afirmação ou uma negação entre dois ou mais conceitos.


Juízo é uma proposição afirmativa ou negativa pelo qual atribuo ou nego a um sujeito um predicado. O predicado é um atributo afirmado ou negado do sujeito e faz parte ou não de sua essência.

A distinção dos campos do conhecimento verdadeiro, segundo Aristóteles distribuído em três ramos: teorético (referente aos seres que apenas podemos contemplar ou observar, sem agir sobre eles ou neles interferir), prático (referente às ações humanas: ética, política e economia) e técnico (referente à fabricação e ao trabalho humano, que pode interferir no curso da Natureza, criar instrumentos ou artefatos: medicina, artesanato, arquitetura, poesia, retórica, etc)


Para os gregos, a realidade é a natureza e dela fazem parte os humanos e as instituições humanas.

A teoria do conhecimento muda de perspectiva com o advento do cristianismo que fez a distinção entre a fé e a razão, verdades reveladas e verdades racionais, matéria e espírito, corpo e alma, afirmou que o erro e a ilusão são parte da natureza humana em decorrência do caráter pervertido de nossa vontade, após o pecado original.

Três problemas novos surgem:

a) Como sendo seres decaídos e pervertidos, podemos conhecer a verdade?

b) Sendo nossa natureza dupla (composta de matéria e espírito), como nossa inteligência pode conhecer o que é diferente dela?

c)Como seres corporais podem conhecer o incorporal (Deus)? E como os seres incorpóreos podem conhecer o mundo corpóreo?

A filosofia antiga considerava-nos como entes principiantes de todas as formas de realidade.

O cristianismo introduziu a noção do pecado original e a separação radical entre os humanos (pervertidos e finitos) e a divindade(perfeita e infinita)

Como o humano (finito) pode conhecer a verdade(infinita e divina)?

Durante toda a Idade Média a fé tornou-se o objeto central para a Filosofia, e somente através dela poderíamos responder essas perguntas.

Acreditava-se que a fé ilumina nosso intelecto e guiava nossa vontade, permite à razão o conhecimento da verdade, permitindo que a alma receba os mistérios da revelação.

A fé nos faz saber mesmo que possamos entender que, pela vontade soberana de Deus, era concedido à nossa alma imaterial conhecer as coisas materiais.

Os filósofos modernos, porém, não aceitaram essas respostas e por esse motivo a questão do conhecimento tornou-se central para eles.

A aletheia era concebida como presença e manifestação do verdadeiro aos nossos sentidos ou ao nosso intelecto, ou seja, como presença do ser à nossa experiência sensível ou ao puro pensamento.

Para os modernos, a situação é exatamente contrária. Se a verdade depende da revelação e da vontade divina, como podemos com o intelecto pervertido conhecer a verdade? Se a verdade depender da fé e se depender da fraqueza da vontade, como a razão poderia conhecer a verdade?

Santo Agostinho, trouxe a idéia de que cada ser humano é uma pessoa, que para o Direito Romano define como um sujeito de direito
e de deveres.


Como pessoas, somos responsáveis por nossos atos e pensamentos.  Pessoa é a consciência, a alma é dotada de vontade, imaginação, memória e inteligência.


Para os filósofos antigos podemos conhecer a verdade desde que a razão não contradiga a fé e submeta a esta no tocante às verdades últimas e principais.

Os modernos separaram a fé da razão, sendo destinadas a estas conhecimentos diferentes sem qualquer relação entre si.

Consideraram que a alma pode conhecer os corpos porque os representa intelectualmente por meio de idéias e estas são imateriais como a própria alma.

Explicar como a razão e o pensamento podem-se tornar mais forte do que a vontade e até controlar a vontade.

O exame da capacidade humana de conhecer .... A teoria do conhecimento volta-se para a relação entre o pensamento e as coisas, a consciência (interior) e a realidade (exterior), o entendimento e a realidade, em suma, o sujeito e o objeto do conhecimento.

Francis Bacon e René Descartes se preocuparam com a capacidade humana para o erro e a verdade.

Pela primeira vez, a teoria do conhecimento propriamente dita é proposta pelo inglês John Locke.

Para os gregos, a verdade era aletheia, para os modernos, veritas. Para os modernos trata-se de explicar como os relatos mentais, nossas idéias correspondem autenticamente à realidade.

Os modernos retomam Sócrates, Platão e Aristóteles, a começar pelo exame contrárias e ilusórias para ultrapassá-las em direção à verdade.

Bacon e Descartes examinaram as causas e as formas do erro, através da análise dos preconceitos e do senso comum.

Bacon elaborou teoria conhecida como a crítica dos ídolos(em grego ídolo significa imagem).

Descartes elaborou um método de análise conhecido como dúvida metódica.

Para Bacon existem quatro tipos de ídolos ou de imagens que formam opiniões cristalizadas e preconceitos, que impedem o conhecimento da verdade:

1. ídolos da caverna : as opiniões que se formam em nós por erros e defeitos dos sentidos. São mais fáceis de corrigir pelo intelecto;

2. ídolos do fórum: as opiniões que se formam em nós como consequência da linguagem e de nossas relações com os outros. Mais difíceis de vencer mas pode o intelecto intervir.

3. ídolos do teatro : são opiniões formadas em nós em decorrência dos poderes das autoridades que nos impõem seus pareceres e os transformam em decretos e leis inquestionáveis.
Só podem ser mudados se houver mudanças social e política.

4. ídolos da tribo são opiniões que se formam em nós, em decorrência de nossa natureza humana, próprios da espécie humana, só podem ser vencidos se houver uma reforma da própria natureza humana.

Bacon acreditava no avanço do conhecimento e das técnicas e nas mudanças sociais e políticas e no desenvolvimento científico e da Filosofia, na sua obra Nova Atlântida, descreve uma sociedade ideal e perfeita, nascida do conhecimento verdadeiro e do desenvolvimento das técnicas.

Descartes localizava a origem do erro em duas atitudes que chamou de atitudes infantis.

a) a prevenção que é a facilidade com que nosso espírito se deixa levar pelas opiniões e idéias alheias, sem se preocupar com a verificação se são ou não verdadeiras, São opiniões que consagram preconceitos e que escravizam nosso pensamento.

b) precipitação que é a facilidade e a velocidade com que nossa vontade nos faz emitir juízos sobre as coisas antes de verificarmos se nossas idéias são ou não são verdadeiras, Originam-se no conhecimento sensível, na imaginação , na linguagem e na memória.

Tanto Bacon como Descartes acreditam na possibilidade de vencer tais efeitos, graças a uma reforma do entendimento e das ciências. Apesar de que Descartes não pensa na necessidade de mudanças sociais, políticas, (diferindo neste aspecto de Bacon).

Para isto, Descartes criou a dúvida metódica, pelo qual o sujeito do conhecimento, analisando cada um de seus conhecimentos, conhece e avalia as fontes e as causas de cada um, a falsidade e a verdade de cada um e encontra meios de livrar-se de tudo quanto seja duvidoso perante o pensamento.

Para Descartes, o conhecimento sensível( sensação, percepção, imaginação, memória e linguagem) é a causa do erro e deve ser afastado.

O conhecimento verdadeiro é puramente intelectual, parte das idéias inatas e controla(por meio de regras) as investigações filosóficas, científicas e técnicas.

Locke é iniciador da teoria do conhecimento porque analisou a forma de conhecimento, a origem das idéias e dos discursos, a finalidade das teorias e as capacidades dos sujeitos cognoscentes relacionadas com os objetos que ele pode conhecer.


Em sua obra Ensaio sobre o entendimento humano afirmou:


"Visto que o entendimento situa o homem acima dos outros seres sensíveis e dá-lhe toda vantagem e todo domínio que tem sobre eles, seu estudo consiste certamente num tópico que, por sua nobreza, é merecedor de nosso trabalho de investigá-lo. O entendimento, como olho que nos faz ver e perceber todas as outras coisas, não se observa a si mesmo; requer arte e esforço situá-lo à distância e fazê-lo seu próprio objeto."


Já Aristóteles, em sua obra Metafísica descreveu:

"Todos os homens têm por natureza o desejo de conhecer. O prazer causado pelas sensações é a prova disso, pois mesmo fora de qualquer utilidade, as sensações nos agradam por si mesmas, e, mais do que todas as outras, as sensações visuais."


Platão e Descartes afastam a experiência sensível ou o conhecimento sensível do conhecimento verdadeiro que é puramente intelectual.


Aristóteles e Locke consideram o conhecimento se realiza em graus contínuos, partindo da sensação até as idéias.


Essa diferença de perspectiva estabelece as duas grandes orientações da teoria do conhecimento, conhecidas como racionalismo e empirismo.


Para o racionalismo, a fonte do conhecimento verdadeiro é a razão operando por si mesma, sem auxílio da experiência sensível e controlando a própria experiência sensível.


Para o empirismo, a fonte de todo e qualquer conhecimento é a experiência sensível, responsável pelas idéias da razão e controlando o trabalho da própria razão.


Apesar das distinções existe um elemento em comum a todos os filósofos a partir da modernidade, qual seja , tomar o entendimento humano como objeto da investigação filosófica.


Tornar o sujeito do conhecimento objeto do conhecimento para si mesmo é a grande tarefa que a modernidade filosófica inaugura, ao desenvolver a teoria do conhecimento, é o que chamamos de reflexão filosófica.


A relação do ego com a verdade (quer identidade, coerência ou de esperança).


O pressuposto fundamental da teoria do conhecimento é a reflexão do entendimento,ou seja, que somos seres racionais conscientes.


A consciência é um conhecimento (das coisas em si)e um conhecimento desse conhecimento(reflexão).


Do ponto de vista psicológico, a consciência é o sentimento de identidade, é o eu, um fluxo temporal de estados corporais e mentais, que retém o passado na memória, percebe o presente pela atenção e espera o futuro pela imaginação.


O eu é formado por nossas vivências.


Do ponto de vista ético, moral a consciência é a espontaneidade livre e racional para escolher e deliberar e agir conforme a liberdade, aos direitos alheios e ao dever.


A pessoa é dotada de vontade livre e de responsabilidade, com capacidade de compreender e interpretar a realidade e sua condição(física, social, histórica, cultural), viver na companhia dos outros segundo as normas e os valores morais definidos pela sociedade.



Do ponto de vista político, a consciência é o cidadão indivíduo situado no tecido social como portadores de direitos e deveres, relacionando-se com a esfera pública do poder e das leis.


A consciência moral e a consciência política formam-se pelas relações entre as vivências do eu e os valores e as instituições da sociedade ou de sua cultura.

O Eu é uma vivência e uma experiência que se realiza por comportamentos: a pessoa e o cidadão são a consciência como(agente político e moral) como práxis.


A consciência é uma atividade sensível e intelectual dotada de poder de análise, síntese e representação. É o sujeito, é dotado de capacidade conhecer-se a si mesmo no ato do conhecimento, ou seja, é capaz de reflexão.


A consciência reflexiva ou o sujeito do conhecimento forma-se como resultado de análise e síntese , de representação e significação voltadas para a explicação, descrição e interpretação da realidade e das três esferas da vida consciente (vida psíquica, moral e política).


Apóia-se em métodos de conhecimento e de busca da verdade . É o aspecto teórico ou intelectual da consciência.

Ao revés do eu, o sujeito do conhecimento não é uma vivência individual, mas aspira à universalidade, ou seja, à capacidade de conhecimento que seja idêntica para todos os seres humanos e válido para todos. A vivência é singular e o conhecimento é universal.


Eu, pessoa, cidadão e sujeito constituem a consciência como subjetividade ativa, sede da razão e do pensamento, capaz de identidade consigo mesma virtude, direitos e verdade.

Há graus de consciência:

. a consciência passiva dotada de vaga e confusa percepção de nós mesmos e da  realidade;

. consciência vivida mas não reflexiva é a consciência afetiva, é egocêntrica;

. consciência ativa e reflexiva: aquela que reconhece a diferença entre o interior e o exterior, entre si e os outros, possui quatro modalidades: eu, pessoa, cidadão e sujeito.

. consciência intencional ou intencionalidade é a consciência de alguma coisa e visa sempre a alguma coisa.

A consciência realiza atos e visa a conteúdos ou significações.

O sujeito do conhecimento é aquele que reflete sobre as relações
entre atos e significações e conhece a estrutura formada por eles ( a percepção, a imaginação a memória, a linguagem e o pensamento).

O conhecimento sensível também é chamado de empírico ou experiência e suas principais formas são a sensação e a percepção.

A sensação é o que nos dá as qualidades exteriores e interiores. É uma reação corporal imediata a um estímulo ou excitação externa,sem que seja possível distinguir, no ato da sensação , o estímulo exterior e o sentimento interior.


A percepção é a síntese de sensações, em torno destes conceitos se desenvolveram duas escolas filosóficas: a empirista e a intelectualista.

Para os empiristas, a sensação e a percepção dependem das coisas exteriores, ou seja, dos estímulos externos que agem sobre nossos sentidos e sobre nosso sistema nervoso e chega sob a forma de sensação. a sensação seria pontual, ou seja, um ponto do objeto externo toca um de meus órgãos dos sentidos e faz um percurso no interior do meu corpo, indo ao cérebro e voltando às extremidades sensoriais. Cada sensação é independente das outras e cabe à percepção unificá-las e organizá-las numa síntese.


Para intelectualistas, a sensação e percepção dependem do sujeito do conhecimento e a coisa exterior é apenas a ocasião para existir a sensação ou a percepção.

O sujeito é ativo e a coisa é passiva.A passagem da sensação para a percepção, é realizado pelo intelecto do sujeito do conhecimento, que confere organização e sentido às sensações.

Para os empiristas, a sensação conduz à percepção como uma síntese passiva, que depende do objeto exterior.

Para os intelectualistas, a sensação e a percepção são sempre confusas e devem ser abandonadas quando o pensamento formula as idéias puras.

Nova concepção do conhecimento sensível, as mudanças trazidas pela fenomenologia de Husserl e pela Psicologia da forma ou teoria da Gestalt ( palavra alemã que significa configuração, figura estruturada , forma).

Contra o empirismo, que a sensação não é reflexo pontual ou uma resposta físico-fisiológica a um estímulo externo também pontual;

Contra o intelectualismo que a percepção não é uma atividade sintética feita pelo pensamento sobre as sensações.

Contra o empirismo e o intelectualismo que não há diferenças entre sensação e percepção. Ambos julgavam a percepção que a sensação era uma relação de causa e efeitos entre os pontos das coisas e os pontos do corpo.

Fenomenologia e Gestalt mostram que não diferença entre sensação e percepção porque nunca temos sensações parciais , pontuais ou elementares , sentimos a totalidade estruturadas de sentido e de significação.

A percepção possui as seguintes características:

é o conhecimento sensorial de configurações ou de totalidades organizadas e dotadas de sentido e não uma soma de sensações elementares; sensação e percepção são a mesma coisa.

é o conhecimento de um sujeito corporal , isto é, uma vivência corporal, de modo que a situação e as condições de nosso corpo são tão importantes quanto a situação e as condições do objeto percebido.

é sempre experiência dotada de significação, fazendo parte do mundo e da vivência.

o próprio mundo exterior não é uma coleção ou soma de coisas isoladas, mas está organizada de forma estruturada e dotada de sentido.

O vale só é vale por causa da montanha. Na percepção , o mundo possui forma e sentido ambos inseparáveis do sujeito da percepção.

a percepção é uma relação do sujeito com o mundo exterior e não uma relação física-fisiológica.

o mundo percebido é qualitativo, significativo , estruturado e estamos nele como sujeitos ativos, damos às coisas valores e significados que fazem parte da vida.

o mundo percebido é intercorporal, a percepção é uma forma de comunicação que estabelecemos com os outros e as coisas.

o campo perceptivo é uma relação de corpo-sujeito. A percepção é uma conduta vital, uma comunicação, uma interpretação e uma valoração do mundo. O mundo é percebido afetivamente e valorativamente.

a percepção envolve nossa personalidade, e perfaz uma fisionomia.
a percepção envolve a vida social

a percepção nos oferece acesso ao mundo prático e instrumental: é forma de conhecimento e de ação fundamental para as artes.

a percepção é a maneira de ter idéias sensíveis e significações perceptivas, está sujeito ao erro, a ilusão.

Para os empiristas, a percepção é a única forma de conhecimento, constante nas idéias abstratas do pensamento.

Hume afirma que todo conhecimento é percepção: as impressões e as idéias(imagens das impressões).

Nas teorias racionalistas-intelectualistas, a percepção é considerada não muito confiável para o conhecimento pois depende das condições particulares, e, muitas vezes as imagens percebidas não correspondem à realidade.

O pensamento filósofico-científico deve abandonar os dados da percepção e formular as idéias em relação com o percebido.


Na teoria fenomenológica do conhecimento, a percepção é considerada originária e principal do conhecimento humano, com estrutura diferente do pensamento abstrato, que opera com as idéias.


Somente percebemos algumas de suas faces de cada vez. A fenomenologia entende que a ilusão não existe.Uma percepção pode corrigir uma outra.


Os intelectualistas identificam qualidades sensíveis numa realidade distorcida, nosso intelecto nos avisa que não corresponde à realidade.

Para o fenomenólogo, não há ilusões na percepção; perceber é diferente de pensar e não uma forma inferior e deformada de pensamento. A percepção é fruto da relação entre o sujeito e a coisa, é relação possível entre corpos.

A memória é a evocação do passado, é a lembrança e identidade do ego. É a garantia da própria identidade, no dizer de Santo Agostinho é aonde encontramos a nós mesmos.

A memória é uma forma de percepção chamada de introspecção, cujo objeto é interior ao sujeito do conhecimento.

Os gregos consideravam a memória uma entidade sobrenatural ou divina: era a deusa Mnemosyne, mãe das musas que protegem as Artes e a História. Tinha o poder de conferir a imortalidade aos mortais.

O que levou Cícero dizer: "A História é a mestra da vida". A memória é inseparável da percepção e da experiência.A amamnese, a reminiscência, através da investigação pretende-se chegar as causas do fenômeno.

Conta a lenda que Simônides foi convidado pelo rei Céos a fazer uma poema em sua homenagem. O poeta dividiu e poema em duas partes: na primeira, louvava o rei e, na segunda, os deuses Cástor e Pólux.

O rei ofereceu um banquete no qual Simônides leu o poema e pediu o pagamento. Como resposta, o rei lhe disse que, como o poema também estava dedicado aos deuses, ele pagaria metade e que Simônides fosse pedir e a outra metade a Castor e Pólux.

Pouco depois, um mensageiro aproximou-se do poeta dizendo-lhe que dois jovens e procuravam do lado de fora do palácio.

Simônides saiu para encontrá-los, mas não encontrou ninguém. Enquanto estava no jardim, o palácio desabou e todos morreram. E os deuses gêmeos pagaram sua parte pois salvaram o poeta.

As famílias desesperavam-se porque não conseguiam reconhecerem os corpos e dependeram da memória de Simônides para a identificação dos corpos através das roupas e dos lugares.

É por isto que no texto de Santo Agostinho ele se refere aos palácios da memória.

Em nossa sociedade a memória é valorizada e desvalorizada, é meio de registro, é não é considerada como capacidade para o conhecimento.A memória é uma atualização do passado ou a presentificação do passado.

Devemos então, filtrar nossas percepções e cultuar nossa memória como forma de apreensão de conhecimento constante. Daí, o inexorável valor da História.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 05/03/2008
Alterado em 29/10/2013
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