"O conhecimento é o mais potente dos afetos: somente ele é capaz de induzir o ser humano a modificar sua realidade." Friedrich Nietzsche (1844?1900).
 

Professora Gisele Leite

Diálogos jurídicos & poéticos

Textos


Sem o lado sombrio, a luz seria esquecida.

A palavra sombria derivativa de sombra tem origem controversa, do latim vulgar sulumbra, significando estar sob esta sombra... Apesar dos contos de fadas serem comumente associados ao gênero literário infantil, trazem narrativas bem obscuras, destinadas aos adultos.

Em plena Idade Média, tais contos eram uma tradição oral, quase como lendas que circulavam entre diferentes comunidades, com a intenção de alertar as pessoas sobre situações violentas.

A maioria dessas estórias eram documentadas entre os séculos XVI e XVIII, em França e Alemanha. Entre as primeiras coletâneas estão as de autoria de Charles Perreault, que escreveu clássicos como Cinderela e Pequeno Polegar.

E, os irmãos Grimm, que escreveram A Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho e João e Maria (cujos nomes originais eram Hänsel e Gretel).

O lado obscuro ou sombrio dos contos de fadas trazem passagens que descrevem cenas violentas que vão desde o abandono até assassinatos, e ao longo do tempo foram sofrendo adaptações. As animações sobre os mesmos contos de fadas produzidas pela Disney promoveram uma releitura amenizando as agruras narradas.

Em verdade, o famoso "final feliz" representa uma significativa contradição nos contos de fadas... Assim, na estória original de Perreault, a Bela Adomercida, não acorda, com o beijo do Príncipe.

E, ao revés, é abusada sexualmente por ele, enquanto dorme, e, após dar à luz à gêmeos, um de seus filhos é quem a salva do sono profundo, ao sugor do seu dedo o veneno da roca, certamente é uma versão bem diversa daquela que você ouvira na infância.

De toda forma, as estórias ainda que tragam passagens assustadoras e escurecidas, prevalece sobre a noção principal que é a luta do bem contra o mal.

O conto original de "A Bela Adormecida" ou "Belle au bois Dormant" escrito em 1697 vindo depois a ter uma versão dos alemães dos Irmãos Grimm (com o título Little Brier-Rose).

Mas, ainda antes disso, em 1634, o italiano Giambattista Basile tinha publicado contendo um conto  muito parecido intitulado "Sol, Lua e Tália"  (Sun, Moon and Talia) que serviu de inspiração a Perrault e do conto que hoje conhecemos.

Cinderela é um conto bastante antigo, tendo mesmo uma versão grega antes de Cristo e registros na China pelos idos dos anos 800. A estória possui muitas versões e, em muitas destas, a Cinderela foge de seu pai, que quer casar-se com a própria filha, posto que esta lhe lembra sua falecida esposa.

Bem como "A Bela Adormecida", as duas versões mais conhecidas desta estória foram escritas por Charles Perrault e dos Irmãos Grimm. A versão adotada pela Disney usou tem mais proximidade com a de Perrault, que possui uma fada madrinha que transforma uma abóbora em carruagem.

A estória Chapeuzinho Vermelho também de Perrault, narra uma moça bem criada que pede instruções ao Lobo Mau de como chegar até a casa da Vovó. Só que ele, naturalmente, ensina o caminho errado, segue a moça e, em seguida, a devora. Moral da estória: Não fale com estranhos

Mais tarde, na versão escrita em 1884, dos Irmãos Grimm, o caçador vai até a casa da vovó e vê o lobo dormindo e, então usa uma tesoura para abrir a barriga dele e tirar as duas lá de dentro.

Antes que o lobo acorde, Chapeuzinho Vermelho enche a sua barriga com pedras pesadas. Assim, que ele acorda, tenta correr e não consegue por causa do peso, e, então, finalmente, cai morto.

A grande diferença no conto A pequena sereia está exatamente em seu desfecho. Ao invés de casar com o príncipe e viver feliz para sempre, a pequena sereia na verdade é abandonada por ele, logo após ela beber a poção mágica que lhe transforma em mulher.

Mas, como tudo tem um preço secreto na vida, a poção tem um pequeno efeito colateral que consistia que pelo resto da vida, a pequena ex-sereia sentiria uma tremenda dor nos pés, como se estivesse pisando num tapete de facas. Vendo a traição, alguém lhe oferece um punhal para que ela tenha sua
vingança. Mas, ao invés disso, ela pula no mar e morre.

A mais assustadora estória de todas é João e Maria que retrata que um pai que abandonou os filhos na floresta para morrer de fome.

Na versão mais antiga, a madrasta má, que pressiona o mardio a largar seus filhos na floresta, e a bruxa má são a mesma pessoa. É uma coincidência  estranha apesar de que as duas personagens possuiam uma personalidade bem similar.

Outra alteração realizada durante os anos, foi com relação à própria bruxa que, em certa versão da história, na verdade é um casal de demônios e, ao invés, de cozinhar João, eles querem estripá-lo num cavalete de madeira.

Quando o demônio macho sai para uma caminhada, o demônio fêmea manda Maria ajudar a João a subir no cavalete, assim, quando seu marido voltasse, já estaria tudo preparado.

A esperta Maria então finge não saber como colocar  João deitado e pede para o demônio fêmea mostrar como se faz. Quando ela deita no cavalete, João e Maria a amarram esta e rapidamente cortam sua garganta. Depois, fogem levando o dinheiro e a carroção do pobre casal de demônios.

A esperteza ajuda o bem vencer o mal.

Enfim, as versões mais conhecidas e contemporâneas dos contos de fadas são as adaptações produzidas pelos estúdios Disney feitas na primeira metade do século XX mas o filtro da cultura americana preservou o caráter de aventura e traçou lindas histórias de amor, acrescentando certo viés ideológico, majorando a polarização entre o bem e o mal e deu uma podada  estratégica na rebeldia.
 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 15/07/2018
Alterado em 16/07/2018
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